domingo, 29 de julho de 2012

Namoro de galpão

NAMORO DE GALPÃO


Tenteando um rabo de saia
O quera se descaminha
É que nem galo de rinha
Bicado pelo pescoço
Não importa o alvoroço
Nem que a coisa fique quente
Ninguém aqui é semente
E vai acabar no fim
O que tá reservado pra mim
Só vou saber lá na frente

É um cochicho lá num canto
Um olhar meio de lado
E o namoro tá fadado
Num bolicho de galpão
E o índio de antemão
Vai pensando o que dizer
_ Como está vós mecê?
Não é uma frase tão boa
Então o índio ecoa:
_ Buenacho encontrar usted!

A guria se estremece
E a emoção se aflora
Nos lábios, batom cor de amora
Nos cabelos, perfume dos campos
Destilando seus encantos
Num remexer de anca
Coisa linda, a potranca
No desabrochar da idade
É pura vaidade
De todos, suspiros arranca

Não é fácil aparar o toso
De china linda e faceira
Que sabe, de vez primeira
Todo o encanto que tem
Só de olhar já faz bem
Embriagando o peão, sem bebida
Que já fica de asa caída
Ciscando em volta da rinha
Esperando a hora certinha
De fechar o cerco, sem deixar saída

Não é garantida a pealada
A china pode ser arisca
Mas se o quera não arrisca
Não tem como saber
A linda pode não querer
E dizer um não de primeira
Mas depois da segunda ou terceira
E bem pensadinho, de fato
Lembra que ovelha não é pra mato
E juventude não é pra vida inteira

O peão não é assim, tão descarte
Vai pensando a china consigo
Talvez esteja ali o amigo
Companheiro, parceiro e amante
Que dos dias, daqui por diante
Vai fazer parte da vida
Na lida, fácil ou sofrida
Não importando o que está por vir
Mas sim, o belo sentir
De amor, carinho e guarida.

Leandro da Silva Melo




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