CEVANDO REMINISCÊNCIAS
Venho a trote solito
E o pensamento vem ”a lo largo”
Louco por um mate amargo
E um talagaço de canha
Minha vontade é tamanha
De voltar pro pago querido
Lugar que me viu ter nascido
Bombeando o horizonte de luz
Onde a pampa verde reluz
Como a erva de um mate sorvido
O Quero-quero grita no campo
Sentinela do pampa gaúcho
Servindo sua pátria sem luxo
Sem armas e de peito aberto
Também um João-de-barro por perto
Fazendo sua xucra morada
Na beira de alguma estrada
Em cima de algum moirão
O que lhe dá satisfação
Ao vê-la erguida e barreada
Na estrada, poeira e reminiscências
Imagens na mente marcadas
Do trajeto das campereadas
De sentir o cheiro do vento
De poder se deitar ao relento
Olhando o cume dos pinhos
Procurando entre galhos os ninhos
Escutando o mugido do gado
Ecoando num descampado
Abrindo pra si os caminhos
Que bonito olhar a querência
Vislumbrar na baixada o açude
Espelho onde a lua se ilude
Se banha e se estremece
E quando o sol aparece
Espiando por entre frestas
De nuvens um quanto modestas
Ela empalidece e se esconde
Fugindo pra não sei onde
E voltando numa noite destas
Do cerro se avista a tapera
Cravada num descampado
Num feitio de pau-a-pique barreado
Que um dia já nos foi morada
Hoje se acha abandonada
Atirada a judiaria
E até o Santa-fé que lhe cobria
Se bandeou pra outros lados
Levando ‘recuerdos’ entrelaçados
Onde o Minuano assobia
Da porteira ao corredor
Lá longe a taipa do açude
Por feições o índio se ilude
E se vai embora do campo
Não sabe do desencanto
De morar na grande cidade
Onde há violência e maldade
E não há emprego pro qüera
Reconhece depois sua quimera
E volta pra matar saudade
Meu pingo parou de repente
Ergui a vista cansada
Olhei, chorei, dei risada
Estava de volta à querência
Cevando reminiscências
Remoçando sentimentos
E foi neste momento
Ao ver a porteira se abrindo
Do mundo me fui despedindo
Alçando minh’alma ao vento.
Leandro da Silva Melo
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