terça-feira, 31 de julho de 2012
Simplesmente gaúchos
SIMPLESMENTE GAÚCHOS
Tem gente que não tem alma
Outros não tem coração
Mas quem não tem tradição
Fica vagando pelo mundo
Num camperear rotundo
Sem ter eira nem beira
Perdido de uma maneira
Que até chega a dar dó
Atarantados no meio do pó
Sem seguir nenhuma bandeira
Do passado pouco sabem
E até mesmo não se importam
Ironia é o que comportam
Em suas mentes vazias
Criadas na hipocrisia
De falsa sustentação
Pois quem foi cria de galpão
Cheirando o picumã do braseiro
Sabe o que é ser brasileiro
E ama esse seu chão
Destas pessoas que falo
Afogadas na ignorância
Manobradas na inconstância
Do poder do endinheirado
Nunca aceitaram o brado
E a luta do povo gaúcho
Que em farrapos e queimando cartucho
Peleou pela querência
Na mais pura continência
Sem almejar o luxo
Ser gaúcho é mais que herança
É uma opção de vida
É uma emoção incontida
Difícil de explicar
Não tem como narrar
Usando as palavras frias
Pois só olhando a geografia
E o formato de coração
Entende que essa nação
É alma, paixão e poesia
Todo gaúcho é poeta
Do xucrismo sul rio-grandino
Pois traz no sangue o refino
Das peleias lutadas sorrindo
Do talho da adaga, que abrindo
Os horizontes das plagas gaúchas
A ferro, fumaça e garruchas
Foi moldando esse chão brasileiro
Com um perfil bagual altaneiro
Amparado na pólvora, na bala e na bucha
Não me nego a estender o braço
Pra quem precisa de fato
Pois isso não é um simples ato
Que possa ser feito sem consciência
É do povo gaúcho a decência
E a amizade para com os amigos
O respeito aos inimigos
Sem nunca curvar a espinha
E sem alarde, nem ladainha
Como faziam os mais antigos
Altivo por sobre um palanque
Com olhar fixo no futuro
Olhando acima dos muros
De pedras formando mangueiras
Espraiando à sua maneira
O conhecimento a muito aprendido
Que nunca fica contido
Em falácias de pouca expressão
Vai forjando a ferro e facão
A esperança para o desiludido
Com uma postura de rei
Que leva consigo seu povo
Sem achar que seja estorvo
Defender seus comandados
Clama e é aclamado
Por seus feitos e atitudes
Sejam tenras ou sejam rudes
As ações ficam no tempo
Marcadas no lombo do vento
E repetidas por quem não se ilude
Não é fácil falar desse povo
Com tanta riqueza de história
E às vezes me falta memória
E até mesmo conhecimento
Mas o que vem no momento
É o que trago por verdade
Reunindo simplicidade
Tenência e sensatez
Encontro no Português
Um resumo: identidade
É isso que sente o povo gaúcho
E aqueles que nele se inspiram
Identificam-se e compartilham
De uma mesma vertente de ideais
Sabem que os problemas são reais
E com firmeza tem de ser combatidos
Hajam mortos ou feridos
A vitória não vem com facilidade
Mas traz consigo a felicidade
De sermos um povo unido
Um Viva! a gaúchos e gaúchas
De todas as querências e pagos
Que em seus pensamentos mais vagos
Viajam pelo interior do pampa
Desfraldando a Bandeira, a estampa
Cavalgando em pelo, sem luxo
Dançando num baile, num estica e te puxo
Abraçados a mais simplória verdade
Que todos somos na realidade
Simplesmente GAÚCHOS.
Leandro da Silva Melo
domingo, 29 de julho de 2012
Namoro de galpão
NAMORO DE GALPÃO
Tenteando um rabo de saia
O quera se descaminha
É que nem galo de rinha
Bicado pelo pescoço
Não importa o alvoroço
Nem que a coisa fique quente
Ninguém aqui é semente
E vai acabar no fim
O que tá reservado pra mim
Só vou saber lá na frente
É um cochicho lá num canto
Um olhar meio de lado
E o namoro tá fadado
Num bolicho de galpão
E o índio de antemão
Vai pensando o que dizer
_ Como está vós mecê?
Não é uma frase tão boa
Então o índio ecoa:
_ Buenacho encontrar usted!
A guria se estremece
E a emoção se aflora
Nos lábios, batom cor de amora
Nos cabelos, perfume dos campos
Destilando seus encantos
Num remexer de anca
Coisa linda, a potranca
No desabrochar da idade
É pura vaidade
De todos, suspiros arranca
Não é fácil aparar o toso
De china linda e faceira
Que sabe, de vez primeira
Todo o encanto que tem
Só de olhar já faz bem
Embriagando o peão, sem bebida
Que já fica de asa caída
Ciscando em volta da rinha
Esperando a hora certinha
De fechar o cerco, sem deixar saída
Não é garantida a pealada
A china pode ser arisca
Mas se o quera não arrisca
Não tem como saber
A linda pode não querer
E dizer um não de primeira
Mas depois da segunda ou terceira
E bem pensadinho, de fato
Lembra que ovelha não é pra mato
E juventude não é pra vida inteira
O peão não é assim, tão descarte
Vai pensando a china consigo
Talvez esteja ali o amigo
Companheiro, parceiro e amante
Que dos dias, daqui por diante
Vai fazer parte da vida
Na lida, fácil ou sofrida
Não importando o que está por vir
Mas sim, o belo sentir
De amor, carinho e guarida.
Leandro da Silva Melo
Tenteando um rabo de saia
O quera se descaminha
É que nem galo de rinha
Bicado pelo pescoço
Não importa o alvoroço
Nem que a coisa fique quente
Ninguém aqui é semente
E vai acabar no fim
O que tá reservado pra mim
Só vou saber lá na frente
É um cochicho lá num canto
Um olhar meio de lado
E o namoro tá fadado
Num bolicho de galpão
E o índio de antemão
Vai pensando o que dizer
_ Como está vós mecê?
Não é uma frase tão boa
Então o índio ecoa:
_ Buenacho encontrar usted!
A guria se estremece
E a emoção se aflora
Nos lábios, batom cor de amora
Nos cabelos, perfume dos campos
Destilando seus encantos
Num remexer de anca
Coisa linda, a potranca
No desabrochar da idade
É pura vaidade
De todos, suspiros arranca
Não é fácil aparar o toso
De china linda e faceira
Que sabe, de vez primeira
Todo o encanto que tem
Só de olhar já faz bem
Embriagando o peão, sem bebida
Que já fica de asa caída
Ciscando em volta da rinha
Esperando a hora certinha
De fechar o cerco, sem deixar saída
Não é garantida a pealada
A china pode ser arisca
Mas se o quera não arrisca
Não tem como saber
A linda pode não querer
E dizer um não de primeira
Mas depois da segunda ou terceira
E bem pensadinho, de fato
Lembra que ovelha não é pra mato
E juventude não é pra vida inteira
O peão não é assim, tão descarte
Vai pensando a china consigo
Talvez esteja ali o amigo
Companheiro, parceiro e amante
Que dos dias, daqui por diante
Vai fazer parte da vida
Na lida, fácil ou sofrida
Não importando o que está por vir
Mas sim, o belo sentir
De amor, carinho e guarida.
Leandro da Silva Melo
sábado, 28 de julho de 2012
Mate amargo
MATE AMARGO
Verde como as coxilhas
Que se perdem no horizonte
Muitas vezes já foi fonte
De inspiração do campeiro
Por trazer neste teu cheiro
De mata crioula e do pago
Um sabor de doce amargo
E as tradições da campanha
Junto com um gole de canha
Formando parceiros de trago
Chimarrão e cordeona
Que parceria baguala
Quando se entra na sala
E se encontra esses parceiros
Aquerenciado com estes gaiteiros
E a postos, no fogo de chão
Dentro de um velho galpão
De pau a pique barreado
Num sentimento entreverado
De charla, poesia e canção
E com a china
Parceira de nossos dias
Dividindo alegrias
Tristeza, sonho e emoção
Cevando, junto ao coração
Sorvendo a felicidade enraizada
De ter ela como amada
Dividindo o porongo moreno
Tornando este mundo pequeno
Não se importando com mais nada
E assim se passam os dias
Num sorver de gole pequeno
Na cuia um tom mui moreno
Na erva a esmeralda reluz
Parecendo cavernas sem luz
Banhadas por água aquecida
Onde o mais rude pede guarida
E se rende de mãos postas a matear
Não importando quanto tenha a lutar
Mas sim a alegria da vida.
Leandro da Silva Melo
Verde como as coxilhas
Que se perdem no horizonte
Muitas vezes já foi fonte
De inspiração do campeiro
Por trazer neste teu cheiro
De mata crioula e do pago
Um sabor de doce amargo
E as tradições da campanha
Junto com um gole de canha
Formando parceiros de trago
Chimarrão e cordeona
Que parceria baguala
Quando se entra na sala
E se encontra esses parceiros
Aquerenciado com estes gaiteiros
E a postos, no fogo de chão
Dentro de um velho galpão
De pau a pique barreado
Num sentimento entreverado
De charla, poesia e canção
E com a china
Parceira de nossos dias
Dividindo alegrias
Tristeza, sonho e emoção
Cevando, junto ao coração
Sorvendo a felicidade enraizada
De ter ela como amada
Dividindo o porongo moreno
Tornando este mundo pequeno
Não se importando com mais nada
E assim se passam os dias
Num sorver de gole pequeno
Na cuia um tom mui moreno
Na erva a esmeralda reluz
Parecendo cavernas sem luz
Banhadas por água aquecida
Onde o mais rude pede guarida
E se rende de mãos postas a matear
Não importando quanto tenha a lutar
Mas sim a alegria da vida.
Leandro da Silva Melo
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Raízes
RAÍZES
Quando se abre a porteira do mundo
Pro Índio que vive aquerenciado
Ressurge um animal mal-domado
Que se vê livre da encilha
Fazendo seu mundo, sua trilha
Calando fundo sua marca
Como a água da chuva que encharca
Se espraiando por todo lado
Mas deixando o traçado
Num rio, como uma barca
Pra uns, saiu sem rumo
Pra outros, não sabe onde vai
Mas ele sabe que quando sai
Do seu chão enraizado
Vai buscar em outros lados
O que aqui não encontrou
Mas nem por isso o que deixou
Vai ficar no esquecimento
E como a trançar tentos
Vai recordando o que ficou
Foram amigos, família e momentos
Coisas que não se apagam da mente
De vez em quando, num repente
Aparecem emoldurados
Em pensamentos revelados
Como em fotos antigas da lida
Trazendo de volta uma vida
Que já faz parte do passado
Mas que anda sempre ao nosso lado
Em recuerdos e saudade contida
O campeiro não se ilude
Sabe que os tempos são outros
E assim como os potros
Corre xucro contra o vento
Apreciando cada momento
Na construção de uma nova era
Sabendo que o tempo não zera
Não para e não retorna
E o mundo que hoje o contorna
É diferente do que ele quisera
Pudera mudar o tempo
Viver a vida ao contrário
Ao invés do imaginário
Trilhar um rumo sabido
Não já por te vivido
Nem saber por boca alheia
Mas ir tecendo sua teia
Com a certeza das aranhas
Que conhecem todas as manhas
De toda a vida, a vida inteira
Não me arrependo de nada
Tudo que fiz foi valioso
Talvez nem tão virtuoso
Quanto o que alguns quisessem
Mas também, se me dissessem
O que esperavam de mim
Não teria sido assim
Do jeito que foi vivida
E de nada valeria a vida
Se não almejássemos um fim
Traçamos objetivos
Lutamos por nosso espaço
E a cada golpe e puaço
Que damos no lombo do tempo
Ficamos com o sentimento
De uma guerra bem guerreada
De uma luta bem truncada
Que dá gosto só de olhar
Muito mais participar
Forjando nossa jornada
E assim, o tempo que passa
É o tempo que já não temos
É um livro que já não lemos
Por conhecer sua história
Mas a vida não é simplória
E nos coloca em ebulição
Quando saímos do nosso chão
Em busca do futuro incerto
Mas deixando sempre por perto
Alguém para estender a mão
O lugar não é mais o mesmo
As pessoas desconhecidas
Mas quem garantiu que nestas idas
Haveria tranquilidade
Afinal, cá na cidade
É bem diferente do campo
E nosso único acalanto
É trazer os sentimentos
De ter vivido momentos
De alegrias e outros tantos
Quem um dia segue seu rumo
Traçado pelo destino
Não será um teatino
Perdido nos corredores
Pois terá em seus amores
A força infinita da vida
Conduzindo sua lida
Como quem conduz seu tesouro
Pois mais valioso que o ouro
É sua família querida.
Para Maria (esposa), Guilherme (filho) e Negão(cusco).
Leandro da Silva Melo
terça-feira, 24 de julho de 2012
Pra onde te vais, guri?
PRA ONDE TE VAIS, GURI?
Pra onde te vais, guri?
Não conheço teu caminho
Mas te quero com carinho
Como sempre antes te quis
Quero te ver feliz
Nas conquistas de tua vida
Que não seja tão sofrida
Como a do teu velho pai
Que pelo caminho, se vai
Sendo falquejado na lida
Pra onde te vais, guri?
Tento prever teu futuro
Que pode não ser seguro
E imprevisível também
Afinal, pra conseguir ser alguém
E fazer seu próprio destino
Às vezes, tem que ser teatino
E soltar as amarras do tempo
Empurrando nossos sonhos ao vento
E deixando de ser um menino
Pra onde te vais, guri?
Estou aqui te olhando
Não que esteja enxergando
Teu rosto de piá em minha frente
Mas tenho tua imagem na mente
Das coisas que fostes aprendendo
E aos poucos vou remoendo
Uma saudade lá dentro contida
Que no peito me faz guarida
E cada dia mais vai crescendo
Pra onde te vais, guri?
Te vejo agora homenzito
Um moleque esperto e bonito
Ganhando asas ao mundo
E eu sei que lá, bem no fundo
Tu fostes criado pra ele
Um dia, então, serás dele
E terás oportunidades surgindo
Portanto, vais te prevenindo
Pra escolher entre os mundos, este ou aquele
Pra onde te vais, guri?
Dos mundos, o meu já conheces
Pois é nele onde agora, tu cresces
Germinando uma semente enraizada
Que ao seguir teu rumo, será arrancada
Deixando pedaços no fundo
E também rastros profundos
Que se fecundarão em brotinhos
Que brotarão pelos caminhos
Emoldurando outra vez nossos mundos.
Leandro da Silva Melo
segunda-feira, 23 de julho de 2012
De fundamento
DE FUNDAMENTO
Mas que barbaridade...
O mundo não tem o mesmo feitio
Cada um com seu jeito arredio
Troteando como bicho na tropa
No pensamento, um vazio que dopa
Traiçoeiro como cobra enroscada
Na espreita, em alguma picada
Tenteando a hora do bote
Com veneno pingando da glote
Brotando, da guela engasgada
Tem gente de todo tipo
E o mundo não te dá carona
Tal qual égua redomona
Corcoveia pra te derrubar
E se tu não te agarrar
Em teus princípios como palanque
Firmando num tempo estanque
O caráter já demarcado
O orgulho firme e formado
Ceifam teus passos até que tu manque
São poucos os amigos de fato
Muitos são os conhecidos
Vários os prevalecidos
Na frente, te apertam a mão
Pelas costas, te dão o tirão
Num manotaço de pata e meia
Não tem coragem pra peleia
E só agem de forma mesquinha
Pelos cantos, pelas costas, em turminha
Se não for forte, o índio apeia
Mas o tempo é o grande remédio
Pra todo mal que existe
A princípio, se fica triste
Depois se analisa o fato
E vê que tal desacato
Provém de gente sem eira
Sem limites e sem beira
Mal criados num mundo vadio
Sem essência, cultura e vazio
Desconhecem raiz e bandeira
Por isso, sigo na estrada
Me importando com os amigos de fato
Pra eles, escrevo e relato
Palavras do coração
E explico, com toda a emoção
Que minha forma sisuda de ser
É arma e escudo ao defender
Aquilo que aprendi ser importante
Princípios e caráter são o bastante
Pra quem quiser me conhecer.
Leandro da Silva Melo
Mas que barbaridade...
O mundo não tem o mesmo feitio
Cada um com seu jeito arredio
Troteando como bicho na tropa
No pensamento, um vazio que dopa
Traiçoeiro como cobra enroscada
Na espreita, em alguma picada
Tenteando a hora do bote
Com veneno pingando da glote
Brotando, da guela engasgada
Tem gente de todo tipo
E o mundo não te dá carona
Tal qual égua redomona
Corcoveia pra te derrubar
E se tu não te agarrar
Em teus princípios como palanque
Firmando num tempo estanque
O caráter já demarcado
O orgulho firme e formado
Ceifam teus passos até que tu manque
São poucos os amigos de fato
Muitos são os conhecidos
Vários os prevalecidos
Na frente, te apertam a mão
Pelas costas, te dão o tirão
Num manotaço de pata e meia
Não tem coragem pra peleia
E só agem de forma mesquinha
Pelos cantos, pelas costas, em turminha
Se não for forte, o índio apeia
Mas o tempo é o grande remédio
Pra todo mal que existe
A princípio, se fica triste
Depois se analisa o fato
E vê que tal desacato
Provém de gente sem eira
Sem limites e sem beira
Mal criados num mundo vadio
Sem essência, cultura e vazio
Desconhecem raiz e bandeira
Por isso, sigo na estrada
Me importando com os amigos de fato
Pra eles, escrevo e relato
Palavras do coração
E explico, com toda a emoção
Que minha forma sisuda de ser
É arma e escudo ao defender
Aquilo que aprendi ser importante
Princípios e caráter são o bastante
Pra quem quiser me conhecer.
Leandro da Silva Melo
sábado, 21 de julho de 2012
Meu cusco, meu amigo
MEU CUSCO, MEU AMIGO
Corri os olhos na pampa
Em busca de algo perdido
Reconheci o desconhecido
Na sombra do meu cavalo
Um cusco de pelo ralo
Troteando meio de lado
Alegrito e desconfiado
Como cego com amante
Mas, acima de tudo, confiante
De um amigo ter encontrado
Corria um pouco na frente
Mas não se distanciava do baio
De quando em vez olhava a soslaio
Pra ver se eu ainda vinha ali
Num trotezito guasca-tupi
Soltando a rédea e o freio
Embalando sem receio
Dando ao cavalo seu tempo
Soltando as crinas ao vento
A despacito, sem parar rodeio
O cusco, às vezes, parava
Sentava de meia bunda ao chão
Se coçava como quem toca violão
Dava uma cheirada em tudo
E levantava, ligeiro e topetudo
Olhando para o horizonte
Corria em direção à fonte
Que jorrava ali, perto da estrada
E entrava na água, mui gelada
Que cruzava por debaixo da ponte
Um pouco bebia de língua
Um pouco se molhava ao todo
Não importando se água e lodo
Se misturavam pelo riacho
Saía balançando o cacho
Jogando água pros lados
E, da orelha ao rabo empinado,
Se estremecia, tirando o excesso
E no final, sem muito sucesso
Se esfregava na grama, emborcado
Este é o cusco campeiro
Acostumado com mato e macega
Tapado de pega-pega
Não esquece o rumo do rancho
E quando chega, de carancho
Se infiltrando na churrascada
É assunto da peonada
Que logo lhe atiram um osso
E ele já sai num retoço
Faceiro em direção à ramada
Um cusco é um parceiro
Companheiro pra toda hora
Nem brigado vai embora
Fica triste, mas rodeando
E parece esperando
Quando vamos chamá-lo de novo
E nos acha no meio do povo
Seja por faro ou por instinto
E se apega de um jeito indistinto
Como a galinha se apega ao ovo
Ter um cusco é ter um amigo
Que todos os dias te espera
E por mais que pareça uma fera
Te encontra abanando o rabo
E tu esqueces o dia brabo
Ao ver o teu amigo feliz
E saber que só o que ele quis
E esperou o dia inteiro
Foi pra te encontrar primeiro
Como num retrato de alma e matiz
A felicidade dele é sincera
Se não gosta, late e se bota
Mas se gosta, é amigo pra qualquer rota
Companheiro de qualquer campereada
Junto desde a madrugada
Até o apagar do braseiro
Muitas vezes é o primeiro
A dar o aviso de sentinela
E se esganiça, abrindo a guela
Para defender seu parceiro
E é por isso que toda vez
Que apronto uma carne pro fogo
Não esqueço as regras do jogo
E incluo meu amigo na lista
Que com um latido me dá uma pista
Que vai esperar por um osso
Deitado e sem alvoroço
Parece gostar das campeiras
Ressonando ao som das vaneiras
Fazendo o estilo bom moço
Meu cusco, meu amigo
Muito eu devo pra ti
De tudo que eu já vivi
Nunca encontrei melhor parceiro
Sempre alegre e faceiro
Esperando por um carinho
E mesmo ficando sozinho
Na maior parte do dia
Extravasa sua alegria
Ao me ver apontar no caminho.
Leandro da Silva Melo
Corri os olhos na pampa
Em busca de algo perdido
Reconheci o desconhecido
Na sombra do meu cavalo
Um cusco de pelo ralo
Troteando meio de lado
Alegrito e desconfiado
Como cego com amante
Mas, acima de tudo, confiante
De um amigo ter encontrado
Corria um pouco na frente
Mas não se distanciava do baio
De quando em vez olhava a soslaio
Pra ver se eu ainda vinha ali
Num trotezito guasca-tupi
Soltando a rédea e o freio
Embalando sem receio
Dando ao cavalo seu tempo
Soltando as crinas ao vento
A despacito, sem parar rodeio
O cusco, às vezes, parava
Sentava de meia bunda ao chão
Se coçava como quem toca violão
Dava uma cheirada em tudo
E levantava, ligeiro e topetudo
Olhando para o horizonte
Corria em direção à fonte
Que jorrava ali, perto da estrada
E entrava na água, mui gelada
Que cruzava por debaixo da ponte
Um pouco bebia de língua
Um pouco se molhava ao todo
Não importando se água e lodo
Se misturavam pelo riacho
Saía balançando o cacho
Jogando água pros lados
E, da orelha ao rabo empinado,
Se estremecia, tirando o excesso
E no final, sem muito sucesso
Se esfregava na grama, emborcado
Este é o cusco campeiro
Acostumado com mato e macega
Tapado de pega-pega
Não esquece o rumo do rancho
E quando chega, de carancho
Se infiltrando na churrascada
É assunto da peonada
Que logo lhe atiram um osso
E ele já sai num retoço
Faceiro em direção à ramada
Um cusco é um parceiro
Companheiro pra toda hora
Nem brigado vai embora
Fica triste, mas rodeando
E parece esperando
Quando vamos chamá-lo de novo
E nos acha no meio do povo
Seja por faro ou por instinto
E se apega de um jeito indistinto
Como a galinha se apega ao ovo
Ter um cusco é ter um amigo
Que todos os dias te espera
E por mais que pareça uma fera
Te encontra abanando o rabo
E tu esqueces o dia brabo
Ao ver o teu amigo feliz
E saber que só o que ele quis
E esperou o dia inteiro
Foi pra te encontrar primeiro
Como num retrato de alma e matiz
A felicidade dele é sincera
Se não gosta, late e se bota
Mas se gosta, é amigo pra qualquer rota
Companheiro de qualquer campereada
Junto desde a madrugada
Até o apagar do braseiro
Muitas vezes é o primeiro
A dar o aviso de sentinela
E se esganiça, abrindo a guela
Para defender seu parceiro
E é por isso que toda vez
Que apronto uma carne pro fogo
Não esqueço as regras do jogo
E incluo meu amigo na lista
Que com um latido me dá uma pista
Que vai esperar por um osso
Deitado e sem alvoroço
Parece gostar das campeiras
Ressonando ao som das vaneiras
Fazendo o estilo bom moço
Meu cusco, meu amigo
Muito eu devo pra ti
De tudo que eu já vivi
Nunca encontrei melhor parceiro
Sempre alegre e faceiro
Esperando por um carinho
E mesmo ficando sozinho
Na maior parte do dia
Extravasa sua alegria
Ao me ver apontar no caminho.
Leandro da Silva Melo
sexta-feira, 20 de julho de 2012
Ilha que encanta
ILHA QUE ENCANTA
Moro numa querência
Por demais linda e faceira
Floripa é a terra primeira
Escolhida pelos sulinos
Nestes verões teatinos
Une povos e nações
Dos mais distantes rincões
Do Chile, Brasil, Argentina
Transformam essa menina
Na musa de nossos verões
Tem na sua paisagem
Uma beleza trigueira
Numa estampa brasileira
Mesclada com “los hermanos
Chilenos, Uruguayos, paisanos”
Povos da mesma terra
Que na essência se encerra
Por serem da mesma cria
Uma América Latina bravia
Moldada na peleia e na guerra
¡Oh, Floripa, tu és muy guapa!
Tens praias, campos e cidade
Tens uma capacidade
De agradar a todos passantes
De atrair pra ti viajantes
Que se deslumbram ao vê-la
E muito mais ao conhecê-la
Desde a Ponte Hercílio Luz
Que pra todos daqui traduz
O simbolismo da pátria sinuela
Tens ainda, no continente
Uma herança Charrua
É o Querência da Meia Lua
Semeando tradição neste pago
Matando as saudades que trago
Por deixar minha terra farrapa
Mas nem por aqui escapa
As tradições rio-grandinas
Na essência, ideias sulinas
Na forma rude e mais guapa
São praias e praias que traçam
O perfil da Ilha da Magia
E entre água calma e bravia
Percebo quanta pujança
Deixada aqui de herança
Pelo Patrão Celestial
És um rico manancial
De beleza selvagem e humana
Ilha parceira e hermana
Pra todos, és especial
Não me atrevo a citar todas elas
Pois são muitas as que não conheci
Ponta das Canas, Jurerê, Sambaqui
De índios já foi cemitério
Merece o respeito gaudério
por trazer no teu chão tal herança
Marcado a faca e a lança
Afiadas nas pedras do caminho
De Ingleses e do Santinho
Belezas, que jamais nos cansa
Mas não é só a água salgada
O que tens a nos proporcionar
Muito mais que a água do mar
Tens também a água doce
Numa moldura que, se solita fosse
Já nos encheria de emoção
É a Lagoa da Conceição
No coração do Desterro
Nome que foi primeiro
Batizado este chão
Depois virou Florianópolis
Com carinho chamamos Floripa
Que só ao pronunciar incita
As mais belas lembranças
De férias, de festas, de danças
De momentos felizes aqui
E é o lugar que eu escolhi
Pra viver meus dias futuros
Onde apliquei e vou ganhando juros
Por tanta beleza que outrora não vi
Dos percalços de nossa vida
Tu não tens nada com isso
Trabalho, incomodação, rebuliço
São coisas artificiais
Que tuas belezas naturais
Combatem no dia-a-dia
Parece até rebeldia
Que em momentos de pura tristeza
Tu nos brinda com tua beleza
E nos renova a alegria
Só me resta agradecer
Por existires, Ilha que encanta
Pertences a uma terra Santa
Nossa Santa Catarina
Que a todos os povos ensina
A herança do xucrismo campeiro
Ser um povo hospitaleiro
É tua marca de nascença
Pois tens, como tua crença
Ser o sol do sul brasileiro.
Leandro da Silva Melo
Moro numa querência
Por demais linda e faceira
Floripa é a terra primeira
Escolhida pelos sulinos
Nestes verões teatinos
Une povos e nações
Dos mais distantes rincões
Do Chile, Brasil, Argentina
Transformam essa menina
Na musa de nossos verões
Tem na sua paisagem
Uma beleza trigueira
Numa estampa brasileira
Mesclada com “los hermanos
Chilenos, Uruguayos, paisanos”
Povos da mesma terra
Que na essência se encerra
Por serem da mesma cria
Uma América Latina bravia
Moldada na peleia e na guerra
¡Oh, Floripa, tu és muy guapa!
Tens praias, campos e cidade
Tens uma capacidade
De agradar a todos passantes
De atrair pra ti viajantes
Que se deslumbram ao vê-la
E muito mais ao conhecê-la
Desde a Ponte Hercílio Luz
Que pra todos daqui traduz
O simbolismo da pátria sinuela
Tens ainda, no continente
Uma herança Charrua
É o Querência da Meia Lua
Semeando tradição neste pago
Matando as saudades que trago
Por deixar minha terra farrapa
Mas nem por aqui escapa
As tradições rio-grandinas
Na essência, ideias sulinas
Na forma rude e mais guapa
São praias e praias que traçam
O perfil da Ilha da Magia
E entre água calma e bravia
Percebo quanta pujança
Deixada aqui de herança
Pelo Patrão Celestial
És um rico manancial
De beleza selvagem e humana
Ilha parceira e hermana
Pra todos, és especial
Não me atrevo a citar todas elas
Pois são muitas as que não conheci
Ponta das Canas, Jurerê, Sambaqui
De índios já foi cemitério
Merece o respeito gaudério
por trazer no teu chão tal herança
Marcado a faca e a lança
Afiadas nas pedras do caminho
De Ingleses e do Santinho
Belezas, que jamais nos cansa
Mas não é só a água salgada
O que tens a nos proporcionar
Muito mais que a água do mar
Tens também a água doce
Numa moldura que, se solita fosse
Já nos encheria de emoção
É a Lagoa da Conceição
No coração do Desterro
Nome que foi primeiro
Batizado este chão
Depois virou Florianópolis
Com carinho chamamos Floripa
Que só ao pronunciar incita
As mais belas lembranças
De férias, de festas, de danças
De momentos felizes aqui
E é o lugar que eu escolhi
Pra viver meus dias futuros
Onde apliquei e vou ganhando juros
Por tanta beleza que outrora não vi
Dos percalços de nossa vida
Tu não tens nada com isso
Trabalho, incomodação, rebuliço
São coisas artificiais
Que tuas belezas naturais
Combatem no dia-a-dia
Parece até rebeldia
Que em momentos de pura tristeza
Tu nos brinda com tua beleza
E nos renova a alegria
Só me resta agradecer
Por existires, Ilha que encanta
Pertences a uma terra Santa
Nossa Santa Catarina
Que a todos os povos ensina
A herança do xucrismo campeiro
Ser um povo hospitaleiro
É tua marca de nascença
Pois tens, como tua crença
Ser o sol do sul brasileiro.
Leandro da Silva Melo
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Cinzas de minha essência
CINZAS DE MINHA ESSÊNCIA
Ateando fogo na lenha
Atiço o pensamento
Olhando para o relento
Numa manhã de domingo
E a frase que vem do limbo
Entre o consciente e o inconsciente
De cara se faz presente
E se escancara de fato
Traçando no meu relato
Aquilo que pensa o vivente
A lenha que agora se queima
Deixando no ar picumãs
Já foi em várias manhãs
Uma árvore de importância
Como tantas outras na estância
Que fincaram raízes ao chão
Mas, como se sabe de antemão
Pra tudo há o seu tempo
E a árvore que me protegia do vento
Hoje aquece a água pro meu chimarrão
São nós, sulcos e seiva
Vícios emaranhados numa textura
Que trazem em cada uma de suas ranhuras
Históricos de sua linhagem
Traçando na casca dura e selvagem
Num linguajar pra nós desconhecido
Medos e segredos de heróis e de vencidos
Balbuciados ali, sem testemunhas
Num nascer de sol ou quando ele se punha
Presenciados pela nobreza do silêncio contido
Tantas línguas foram escritas
E até hoje são estudadas
Mas uma, sequer foi citada
É o escrito das velhas árvores
O relato de grandes mártires
Sobreviventes de muitas eras
Testemunhas de muitas guerras
Que nas rugas, cicatrizes e marcas
Contam histórias arcaicas
Do homem paz e do homem fera
O cheiro da lenha no fogo
Nos transcende a momentos de paz
O estalar de um tronco que jaz
Nos faz pensar em sua história
Na semente, no broto, na glória
No crescer, rumo ao infinito
De um céu azul, límpido e bonito
Com vista privilegiada do pago
Recebendo de pássaros o afago
Nos cortejos, nos ninhos e nos ritos
És hoje a lenha que queima
Mas não deixa de ter importância
Pois tua relevância
Se traduz na cinza que fica
Com respingos de água da bica
Que aqueço pro meu chimarrão
Na cambona no fogo de chão
Pra um amargo de longa mateada
Onde tu és hoje a iluminada
Neste braseiro na escuridão
Estas cinzas tem outros respingos
De graxa da carne quente
Dos churrascos feitos no poente
Acompanhados de gaitaço e cantoria
Que traduzem nossa alegria
De ter nascido nesse pago
De que tantas lembranças trago
Algumas até que eu não vivi
Mas que na alma eu já senti
Nos milênios que por aqui vago
Fui combatente em muitas lutas
Perdi muitas partes no campo
Por isso que hoje não me espanto
Que ao cruzar pelos pagos sulinos
Nos mais distantes rincões teatinos
Sinto que vou me encontrando
E aos poucos me completando
Juntando com as partes que trago
Aquelas que encontro no pago
E a cada passo me renovando
Por isso, hoje lhes peço
Que ao chegar a hora finita
Me brindem de uma maneira bonita
Com um chimarrão bem cevado
Com um gole de trago e um cusco ao lado
Declamem uma poesia campeira
E de uma forma bem altaneira
Me tapem com o pavilhão do Estado
E também com o manto Colorado
Que me despeço, com a alma faceira
Em seguida me transformem em cinza
Me misturem com a erva cevada
Juntem com a lenha queimada
Respingada de graxa e de sal
Me depositem na terra natal
Num metro, em qualquer propriedade
Que, se do Patrão lá de cima for vontade
Brotarei no momento exato
Mas, se daquele metro, não nascer nem mato
É que levei minha terra para a eternidade.
Leandro da Silva Melo
Ateando fogo na lenha
Atiço o pensamento
Olhando para o relento
Numa manhã de domingo
E a frase que vem do limbo
Entre o consciente e o inconsciente
De cara se faz presente
E se escancara de fato
Traçando no meu relato
Aquilo que pensa o vivente
A lenha que agora se queima
Deixando no ar picumãs
Já foi em várias manhãs
Uma árvore de importância
Como tantas outras na estância
Que fincaram raízes ao chão
Mas, como se sabe de antemão
Pra tudo há o seu tempo
E a árvore que me protegia do vento
Hoje aquece a água pro meu chimarrão
São nós, sulcos e seiva
Vícios emaranhados numa textura
Que trazem em cada uma de suas ranhuras
Históricos de sua linhagem
Traçando na casca dura e selvagem
Num linguajar pra nós desconhecido
Medos e segredos de heróis e de vencidos
Balbuciados ali, sem testemunhas
Num nascer de sol ou quando ele se punha
Presenciados pela nobreza do silêncio contido
Tantas línguas foram escritas
E até hoje são estudadas
Mas uma, sequer foi citada
É o escrito das velhas árvores
O relato de grandes mártires
Sobreviventes de muitas eras
Testemunhas de muitas guerras
Que nas rugas, cicatrizes e marcas
Contam histórias arcaicas
Do homem paz e do homem fera
O cheiro da lenha no fogo
Nos transcende a momentos de paz
O estalar de um tronco que jaz
Nos faz pensar em sua história
Na semente, no broto, na glória
No crescer, rumo ao infinito
De um céu azul, límpido e bonito
Com vista privilegiada do pago
Recebendo de pássaros o afago
Nos cortejos, nos ninhos e nos ritos
És hoje a lenha que queima
Mas não deixa de ter importância
Pois tua relevância
Se traduz na cinza que fica
Com respingos de água da bica
Que aqueço pro meu chimarrão
Na cambona no fogo de chão
Pra um amargo de longa mateada
Onde tu és hoje a iluminada
Neste braseiro na escuridão
Estas cinzas tem outros respingos
De graxa da carne quente
Dos churrascos feitos no poente
Acompanhados de gaitaço e cantoria
Que traduzem nossa alegria
De ter nascido nesse pago
De que tantas lembranças trago
Algumas até que eu não vivi
Mas que na alma eu já senti
Nos milênios que por aqui vago
Fui combatente em muitas lutas
Perdi muitas partes no campo
Por isso que hoje não me espanto
Que ao cruzar pelos pagos sulinos
Nos mais distantes rincões teatinos
Sinto que vou me encontrando
E aos poucos me completando
Juntando com as partes que trago
Aquelas que encontro no pago
E a cada passo me renovando
Por isso, hoje lhes peço
Que ao chegar a hora finita
Me brindem de uma maneira bonita
Com um chimarrão bem cevado
Com um gole de trago e um cusco ao lado
Declamem uma poesia campeira
E de uma forma bem altaneira
Me tapem com o pavilhão do Estado
E também com o manto Colorado
Que me despeço, com a alma faceira
Em seguida me transformem em cinza
Me misturem com a erva cevada
Juntem com a lenha queimada
Respingada de graxa e de sal
Me depositem na terra natal
Num metro, em qualquer propriedade
Que, se do Patrão lá de cima for vontade
Brotarei no momento exato
Mas, se daquele metro, não nascer nem mato
É que levei minha terra para a eternidade.
Leandro da Silva Melo
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Cevando Reminiscências
CEVANDO REMINISCÊNCIAS
Venho a trote solito
E o pensamento vem ”a lo largo”
Louco por um mate amargo
E um talagaço de canha
Minha vontade é tamanha
De voltar pro pago querido
Lugar que me viu ter nascido
Bombeando o horizonte de luz
Onde a pampa verde reluz
Como a erva de um mate sorvido
O Quero-quero grita no campo
Sentinela do pampa gaúcho
Servindo sua pátria sem luxo
Sem armas e de peito aberto
Também um João-de-barro por perto
Fazendo sua xucra morada
Na beira de alguma estrada
Em cima de algum moirão
O que lhe dá satisfação
Ao vê-la erguida e barreada
Na estrada, poeira e reminiscências
Imagens na mente marcadas
Do trajeto das campereadas
De sentir o cheiro do vento
De poder se deitar ao relento
Olhando o cume dos pinhos
Procurando entre galhos os ninhos
Escutando o mugido do gado
Ecoando num descampado
Abrindo pra si os caminhos
Que bonito olhar a querência
Vislumbrar na baixada o açude
Espelho onde a lua se ilude
Se banha e se estremece
E quando o sol aparece
Espiando por entre frestas
De nuvens um quanto modestas
Ela empalidece e se esconde
Fugindo pra não sei onde
E voltando numa noite destas
Do cerro se avista a tapera
Cravada num descampado
Num feitio de pau-a-pique barreado
Que um dia já nos foi morada
Hoje se acha abandonada
Atirada a judiaria
E até o Santa-fé que lhe cobria
Se bandeou pra outros lados
Levando ‘recuerdos’ entrelaçados
Onde o Minuano assobia
Da porteira ao corredor
Lá longe a taipa do açude
Por feições o índio se ilude
E se vai embora do campo
Não sabe do desencanto
De morar na grande cidade
Onde há violência e maldade
E não há emprego pro qüera
Reconhece depois sua quimera
E volta pra matar saudade
Meu pingo parou de repente
Ergui a vista cansada
Olhei, chorei, dei risada
Estava de volta à querência
Cevando reminiscências
Remoçando sentimentos
E foi neste momento
Ao ver a porteira se abrindo
Do mundo me fui despedindo
Alçando minh’alma ao vento.
Leandro da Silva Melo
Venho a trote solito
E o pensamento vem ”a lo largo”
Louco por um mate amargo
E um talagaço de canha
Minha vontade é tamanha
De voltar pro pago querido
Lugar que me viu ter nascido
Bombeando o horizonte de luz
Onde a pampa verde reluz
Como a erva de um mate sorvido
O Quero-quero grita no campo
Sentinela do pampa gaúcho
Servindo sua pátria sem luxo
Sem armas e de peito aberto
Também um João-de-barro por perto
Fazendo sua xucra morada
Na beira de alguma estrada
Em cima de algum moirão
O que lhe dá satisfação
Ao vê-la erguida e barreada
Na estrada, poeira e reminiscências
Imagens na mente marcadas
Do trajeto das campereadas
De sentir o cheiro do vento
De poder se deitar ao relento
Olhando o cume dos pinhos
Procurando entre galhos os ninhos
Escutando o mugido do gado
Ecoando num descampado
Abrindo pra si os caminhos
Que bonito olhar a querência
Vislumbrar na baixada o açude
Espelho onde a lua se ilude
Se banha e se estremece
E quando o sol aparece
Espiando por entre frestas
De nuvens um quanto modestas
Ela empalidece e se esconde
Fugindo pra não sei onde
E voltando numa noite destas
Do cerro se avista a tapera
Cravada num descampado
Num feitio de pau-a-pique barreado
Que um dia já nos foi morada
Hoje se acha abandonada
Atirada a judiaria
E até o Santa-fé que lhe cobria
Se bandeou pra outros lados
Levando ‘recuerdos’ entrelaçados
Onde o Minuano assobia
Da porteira ao corredor
Lá longe a taipa do açude
Por feições o índio se ilude
E se vai embora do campo
Não sabe do desencanto
De morar na grande cidade
Onde há violência e maldade
E não há emprego pro qüera
Reconhece depois sua quimera
E volta pra matar saudade
Meu pingo parou de repente
Ergui a vista cansada
Olhei, chorei, dei risada
Estava de volta à querência
Cevando reminiscências
Remoçando sentimentos
E foi neste momento
Ao ver a porteira se abrindo
Do mundo me fui despedindo
Alçando minh’alma ao vento.
Leandro da Silva Melo
sábado, 14 de julho de 2012
Água Xucra
ÁGUA XUCRA
No galpão do velho Zica
Uma guampa reluzia
Com uma cachaça bravia
Com gosto nunca sentido
Na cor, um amarelo encardido
Curtida em barril de carvalho
Da cana cortada ao talho
Um suco bem destilado
Proveniente do melado
Com cheiro de mel e orvalho
Bastava um talagaço
Pro quera sentir o ardor
Na garganta um queimor
O peito ardendo em brasa
Esquece o rumo da casa
E se entronquera no bolicho
Querendo arrumar cambicho
Com china, prenda, percanta
Qualquer feitio lhe encanta
E se entrevera tipo bicho
Mas voltando à velha cana
Que hoje o assunto é o trago
Com sabor doce, quente e amargo
Bebida de gosto nobre
É do rico, do remediado e do pobre
A companheira de qualquer hora
Pois se a coisa tá feia lá fora
Entramos pro nosso mundo
E, do copo, achamos o fundo
Tirando o do Santo, nada vai fora
Da cana, sobra o bagaço
No moinho puxado a boi
Só sabe quem já foi
Conhecer um alambique
E não há quem não fique
Com vontade de dar uma bicada
Numa cachaça nova, tirada
No pinga-gotas do destilador
Névoa de puro sabor
Em três etapas é condensada
A primeira é muito forte
É puro álcool, é querosene
É pior que chá de sene
Misturado com laranja
Se beber, se desarranja
Afrouxa o esterco na hora
E o índio vai, sem demora
Soltando guaiaca e bombacha
Contra o vento, em grama baixa
É trinta metros, campo à fora
A segunda é ideal
Tirada no tempo certo
Guarda em barril, o esperto
Pra mudar o sabor da branquinha
Carvalho, Canela ou purinha
Pra qualquer gosto que exista
Quem faz cachaça é artista
Um dom que não tem igual
Transformando o canavial
Na bebida, bem ou mal quista
A terceira é muito fraca
Não serve nem pra remédio
O sabor não chega a médio
Se descarta logo de cara
Mas como o alambique não para
Serve pra limpar o cocho
Enquanto descansa o touro mocho
Vai pingando aquela aguinha
Com um cheiro de caninha
Mas com gosto muito frouxo
Quem bebe sabe o valor
Do primeiro gole bem dado
Porque se descer atravessado
Pode parar por ali
E não adianta insistir
Porque não vai lhe fazer bem
E nem de graça ou por vintém
Se deve continuar bebendo
Porque só mal vai estar fazendo
Pra ti e pra mais ninguém
Pra quem gosta de um traguinho
Não tem hora, nem momento
É um entretenimento
Usado de larga escala
Pro índio de pouca fala
É a parceria correta
Apesar de analfabeta
É conhecida por todo lado
E não há quem não faça costado
Com uma bebida predileta
No verão ela refresca
No inverno aquenta o peito
Bebendo com muito jeito
Cuidando pra não viciar
Se bebe bem devagar
Como quem dá boia pra louco
Se achar que o corpo é oco
Querendo transbordar o gargalo
Se entope até o talo
E bebe muito, achando pouco
O vício não é caminho
Pra felicidade do andante
Porque nunca vai ser o bastante
Por maior quantia que tome
Bebida nunca fez nome
Daquele que se embriaga
Somente a vida lhe estraga
Tornando-o um desafeto
E os amigos passando reto
E a vida ficando vaga
Por isso que digo, parceiro
Tudo que é demais estraga
O que é bom vira uma praga
Se excede o razoável
Manter uma vida saudável
Contempla tomar um traguinho
De quando em vez, devagarinho
Sentindo o sabor da ardente
Mas, sem esquecer que a gente
É um só, mas não é sozinho
Um brinde aos companheiros!
Uma parte deixo pro Santo!
Afogo as águas do pranto
Realço um sorriso puro
Dores da alma, curo
Fazendo uma reverência
Pra quem deixou sua querência
E encontra num copo de trago
Um pouco daquele pago
Bebendo da sua essência.
Leandro da Silva Melo
No galpão do velho Zica
Uma guampa reluzia
Com uma cachaça bravia
Com gosto nunca sentido
Na cor, um amarelo encardido
Curtida em barril de carvalho
Da cana cortada ao talho
Um suco bem destilado
Proveniente do melado
Com cheiro de mel e orvalho
Bastava um talagaço
Pro quera sentir o ardor
Na garganta um queimor
O peito ardendo em brasa
Esquece o rumo da casa
E se entronquera no bolicho
Querendo arrumar cambicho
Com china, prenda, percanta
Qualquer feitio lhe encanta
E se entrevera tipo bicho
Mas voltando à velha cana
Que hoje o assunto é o trago
Com sabor doce, quente e amargo
Bebida de gosto nobre
É do rico, do remediado e do pobre
A companheira de qualquer hora
Pois se a coisa tá feia lá fora
Entramos pro nosso mundo
E, do copo, achamos o fundo
Tirando o do Santo, nada vai fora
Da cana, sobra o bagaço
No moinho puxado a boi
Só sabe quem já foi
Conhecer um alambique
E não há quem não fique
Com vontade de dar uma bicada
Numa cachaça nova, tirada
No pinga-gotas do destilador
Névoa de puro sabor
Em três etapas é condensada
A primeira é muito forte
É puro álcool, é querosene
É pior que chá de sene
Misturado com laranja
Se beber, se desarranja
Afrouxa o esterco na hora
E o índio vai, sem demora
Soltando guaiaca e bombacha
Contra o vento, em grama baixa
É trinta metros, campo à fora
A segunda é ideal
Tirada no tempo certo
Guarda em barril, o esperto
Pra mudar o sabor da branquinha
Carvalho, Canela ou purinha
Pra qualquer gosto que exista
Quem faz cachaça é artista
Um dom que não tem igual
Transformando o canavial
Na bebida, bem ou mal quista
A terceira é muito fraca
Não serve nem pra remédio
O sabor não chega a médio
Se descarta logo de cara
Mas como o alambique não para
Serve pra limpar o cocho
Enquanto descansa o touro mocho
Vai pingando aquela aguinha
Com um cheiro de caninha
Mas com gosto muito frouxo
Quem bebe sabe o valor
Do primeiro gole bem dado
Porque se descer atravessado
Pode parar por ali
E não adianta insistir
Porque não vai lhe fazer bem
E nem de graça ou por vintém
Se deve continuar bebendo
Porque só mal vai estar fazendo
Pra ti e pra mais ninguém
Pra quem gosta de um traguinho
Não tem hora, nem momento
É um entretenimento
Usado de larga escala
Pro índio de pouca fala
É a parceria correta
Apesar de analfabeta
É conhecida por todo lado
E não há quem não faça costado
Com uma bebida predileta
No verão ela refresca
No inverno aquenta o peito
Bebendo com muito jeito
Cuidando pra não viciar
Se bebe bem devagar
Como quem dá boia pra louco
Se achar que o corpo é oco
Querendo transbordar o gargalo
Se entope até o talo
E bebe muito, achando pouco
O vício não é caminho
Pra felicidade do andante
Porque nunca vai ser o bastante
Por maior quantia que tome
Bebida nunca fez nome
Daquele que se embriaga
Somente a vida lhe estraga
Tornando-o um desafeto
E os amigos passando reto
E a vida ficando vaga
Por isso que digo, parceiro
Tudo que é demais estraga
O que é bom vira uma praga
Se excede o razoável
Manter uma vida saudável
Contempla tomar um traguinho
De quando em vez, devagarinho
Sentindo o sabor da ardente
Mas, sem esquecer que a gente
É um só, mas não é sozinho
Um brinde aos companheiros!
Uma parte deixo pro Santo!
Afogo as águas do pranto
Realço um sorriso puro
Dores da alma, curo
Fazendo uma reverência
Pra quem deixou sua querência
E encontra num copo de trago
Um pouco daquele pago
Bebendo da sua essência.
Leandro da Silva Melo
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