GRITA O QUERO-QUERO
Quero-quero gritou no campo
Alertando o índio na pampa
Quem conhece a lida se encanta
Com a presteza deste soldado
Sempre alerta e entonado
Passo firme, olhar severo
No esporão, seu marco zero
Do território que controla
É a trava e é a mola
E seu aviso é sempre um quero
Batedor de grandes planícies
Sentinela da pampa gaúcha
Estopim de canhão e garrucha
Frustrou muitos planos de espreita
Intrusos, não tolera nem aceita
Definiu batalhas no grito
Ecoou na pampa o mito
De que não relaxa nem na madrugada
É o clarim da invernada
E até peleia solito
Com sua farda cinzenta
Olhos de fogo e bem armado
Tem a parceira ao lado
Zelando pela família
Mas o Rio Grande não é uma ilha
E pra longe ele voou
Altos vôos ele alçou
Buscando novos horizontes
E muito além dos montes
Novas terras ele encontrou
Quero-quero é pro Rio Grande
O que a Águia é para a América
Dotado de uma coragem colérica
Nunca se afasta do ninho
Na ameaça, grita sozinho
Pro lado oposto da prole
Enquanto o filhote se encolhe
Ele chama a atenção do perigo
E mantém a família em abrigo
Até que da ameaça os isole
Mas caso a manobra fracasse
Aí veremos um guerreiro
Veloz como um lanceiro
Aos gritos e com vôos rasantes
Combate com o fervor dos amantes
Pelas coisas valiosas que tem
Família e a querência também
Na alma é um gaúcho de fato
Se houver invasão ou desacato
Vão sair por mal ou por bem
É um dos símbolos do Rio Grande
Ave pernalta e alerta
Com os outros do bando flerta
Numa revoada aos gritos
Ecoando nos infinitos
De nossas várzeas e baixadas
E até nas madrugadas
Serviram de alerta ao tropeiro
Quando seus gritos, primeiro
Avisaram da tropa estourada
Não pousa em moirão
Muito menos em árvore ou galho
Seu pouso é sem atrapalho
Na firme terra que pisa
E esse fato materializa
O que esse bicho traz no coração
A vontade de pisar neste chão
O que pra todo gaúcho é vero
Gritar como o Quero-quero
Rio Grande, minha querência, meu torrão.
Leandro da Silva Melo
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