quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Vinte de Setembro

VINTE DE SETEMBRO

Mas bah!
Foram quarenta anos a fio
Sentindo na pele o arrepio
No peito, o coração apertado
Trazendo nos olhos molhados
A emoção, mal e mal contida
Até então, em toda minha vida
Nunca passei (isso eu me lembro)
Fora do pago num Vinte de Setembro
Pra nós, gaúchos, a data mais querida

Depois de quatro décadas
Tão longe estou do meu pago
E sempre me restou, como um afago
O retorno nesta data de glória
Pra reviver, muito mais que na memória
O sentimento da tradição gaúcha
Amigos, churrasco, adaga e garrucha
Bailes, cachaça, violão e gaita
Acordes que rebrotam dos dedos do taita
Nos tapam de alegria como um jorro de ducha

Mas bah! Desta vez estou de fora
Não pude voltar à querência
Por caprichos de uma existência
Que teima em ser redomona
Mas que não vai me atirar à lona
Pois de onde vim, aprendi
Mais vale aquilo que eu vivi
E todas as coisas que eu fiz
Pois só assim me tornei feliz
E do que não pude fazer, é que me arrependi

Pois hoje é Vinte de Setembro
Data abagualada por demais
Lembrar-nos sempre vais
Da fibra do povo gaúcho
Da simplicidade que pra nós é luxo
Da convivência na roda de mate
Do cusco que num canto late
Dos amigos, conquistas eternas
Pessoas leais e fraternas
Eternizadas nos versos do vate

Senti saudade do Rio Grande
De cruzar por sobre o Mampituba
Enxergar a bandeira verde, amarela e rubra
Sentir o aconchego de “minha casa”
Pois mesmo depois que se cria asa
E se sai por aí, em vôos distantes
Sempre lembramos de como foi antes
E por mais que finquemos morada lá longe
Viajamos em pensamento, assim como os monges
E voltamos pra casa em ventos errantes

Cruzar caminhos conhecidos
Lembrar episódios passados
E que os sonhos realizados
Foram sonhados nessa querência
E pela mescla da sua existência
Me formou assim tão guerreiro
Pra lutar pelos outros primeiro
Amordaçando, de quando em vez, o egoísmo
Aflorando, de repente, um xucrismo
De quem tem um sangue campeiro

Mas neste Vinte de Setembro
Eu não voltei pra minha terra
Eu sei que meu peito berra
Sentindo falta de lá
Mas neste ano, fico por cá
Porém, não é definitivo
E pro ano que vem tenho mais motivo
Pra visitar minha querência
Pois não terei muita paciência
E estarei mais emotivo

Portanto peço aos amigos
Que o respeito ao Rio Grande
Que pelo país se expande
Seja exaltado nesse dia
Que só ao lembrar arrepia
Que a cento e setenta e seis invernos
Iniciava, dos conflitos internos
Aquele que mais nos orgulha
E ainda hoje mantemos a fagulha
Que transformou-nos em gaúchos eternos.


Leandro da Silva Melo


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