VELHA FIGUEIRA
As águas calmas do açude
Espelham a velha figueira
Numa imponência altaneira
Que até o campo respeita
E o gado, quando se deita
Por debaixo de seus galhos
Vislumbra por seus retalhos
Imagens do firmamento
Apreciando o céu por momentos
Enquanto lambe o orvalho
Figueira de tantas histórias
Com os braços sempre estendidos
Protege os desprotegidos
Das intempéries do tempo
Acalma águas e vento
Debruçada no campo nu
E ao assobio do Anu
Se infla como pousada
No descanso e na mateada
Acalentando o xiru
Velha figueira pampeana
Enquadrada em qualquer moldura
Faz parte da imagem mais pura
Que temos em nossa lembrança
Quem, nos tempos de criança,
Nunca brincou nos teus galhos?
E até mesmo te deu uns talhos
Rabiscando uma inicial
Dum namorico jovial
Que mexe com o imaginário
Guardas na memória do tempo
A sabedoria dos antigos
A teimosia dos amigos
Que sempre acabam partindo
E aos poucos vão descobrindo
Que tudo que buscavam encontrar
Pelo qual se dispuseram a lutar
Convergia para um mesmo caminho
O retorno da ave pro ninho
O filho de volta pro lar
A lua, em meio a teus galhos
Te dá um brilho especial
Faz parte de um ritual
De respeito e contemplação
Pois és parte do meu rincão
E um símbolo de nossa querência
Pro campeiro é referência
Divisor de sesmarias
E o mundo te reverencia
Na beleza de tua imponência.
Leandro da Silva Melo
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