MEU LEGADO
Não sou poeta
Nem escritor
Sou apenas um tradutor
De tudo aquilo que sinto
Falo a verdade e não minto
Às vezes disfarço um fato
Para que no meu relato
Pessoas não se incomodem
Pois ao ver a verdade, elas podem
Não gostar de ver seu retrato
Eu penso tudo que escrevo
Mas não escrevo tudo que penso
E se um dia alguém fizesse um censo
Perguntando qual dom tu querias ter
Com certeza todos iriam dizer
É o de ler o pensamento
Pois assim como sopra o vento
Mudando de lado a biruta
A cabeça de cada um é uma gruta
Que não conhecemos nem meio por cento
Gosto de escrever uns versos
Num velho estilo campeiro
De janeiro a janeiro
Quando me dá inspiração
São palavras do coração
Algumas bonitas, outras fortes
Mas, se contar com alguma sorte
Sai uma poesia das mais lindas
Daquelas que não são findas
Nem mesmo depois da morte
Este será meu legado
Palavras do pensamento
Descrevem cada momento
Que passei por esse mundo
Marcas que riscaram a fundo
Pessoas que mal conheci
Porque por mais tempo que se passe aqui
Ninguém conhece ninguém
E se nos encontrarmos no além
Talvez não lembre que um dia te vi
Mas o nosso mundo é agora
É aqui que temos consciência
E que devemos ter paciência
Pra viver a vida de fato
Os momentos que às vezes cato
Pra registrar em algumas linhas
São palavras que foram minhas
Antes de escrever a poesia
Mas agora, por rebeldia
São do mundo, como andorinhas
Voa meu verso...
Bem alto...
Corcoveia e dá-lhe salto
Galopa pelos quatro cantos
Mostra a todos seus encantos
Diz de mim mais do que escrevi
Porque com certeza eu senti
Mais do que pude expressar
Com palavras do meu linguajar
Do pouco que na vida aprendi.
Leandro da Silva Melo
domingo, 30 de setembro de 2012
terça-feira, 25 de setembro de 2012
Velha Figueira
VELHA FIGUEIRA
As águas calmas do açude
Espelham a velha figueira
Numa imponência altaneira
Que até o campo respeita
E o gado, quando se deita
Por debaixo de seus galhos
Vislumbra por seus retalhos
Imagens do firmamento
Apreciando o céu por momentos
Enquanto lambe o orvalho
Figueira de tantas histórias
Com os braços sempre estendidos
Protege os desprotegidos
Das intempéries do tempo
Acalma águas e vento
Debruçada no campo nu
E ao assobio do Anu
Se infla como pousada
No descanso e na mateada
Acalentando o xiru
Velha figueira pampeana
Enquadrada em qualquer moldura
Faz parte da imagem mais pura
Que temos em nossa lembrança
Quem, nos tempos de criança,
Nunca brincou nos teus galhos?
E até mesmo te deu uns talhos
Rabiscando uma inicial
Dum namorico jovial
Que mexe com o imaginário
Guardas na memória do tempo
A sabedoria dos antigos
A teimosia dos amigos
Que sempre acabam partindo
E aos poucos vão descobrindo
Que tudo que buscavam encontrar
Pelo qual se dispuseram a lutar
Convergia para um mesmo caminho
O retorno da ave pro ninho
O filho de volta pro lar
A lua, em meio a teus galhos
Te dá um brilho especial
Faz parte de um ritual
De respeito e contemplação
Pois és parte do meu rincão
E um símbolo de nossa querência
Pro campeiro é referência
Divisor de sesmarias
E o mundo te reverencia
Na beleza de tua imponência.
Leandro da Silva Melo
As águas calmas do açude
Espelham a velha figueira
Numa imponência altaneira
Que até o campo respeita
E o gado, quando se deita
Por debaixo de seus galhos
Vislumbra por seus retalhos
Imagens do firmamento
Apreciando o céu por momentos
Enquanto lambe o orvalho
Figueira de tantas histórias
Com os braços sempre estendidos
Protege os desprotegidos
Das intempéries do tempo
Acalma águas e vento
Debruçada no campo nu
E ao assobio do Anu
Se infla como pousada
No descanso e na mateada
Acalentando o xiru
Velha figueira pampeana
Enquadrada em qualquer moldura
Faz parte da imagem mais pura
Que temos em nossa lembrança
Quem, nos tempos de criança,
Nunca brincou nos teus galhos?
E até mesmo te deu uns talhos
Rabiscando uma inicial
Dum namorico jovial
Que mexe com o imaginário
Guardas na memória do tempo
A sabedoria dos antigos
A teimosia dos amigos
Que sempre acabam partindo
E aos poucos vão descobrindo
Que tudo que buscavam encontrar
Pelo qual se dispuseram a lutar
Convergia para um mesmo caminho
O retorno da ave pro ninho
O filho de volta pro lar
A lua, em meio a teus galhos
Te dá um brilho especial
Faz parte de um ritual
De respeito e contemplação
Pois és parte do meu rincão
E um símbolo de nossa querência
Pro campeiro é referência
Divisor de sesmarias
E o mundo te reverencia
Na beleza de tua imponência.
Leandro da Silva Melo
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Eu sou do mato
EU SOU DO MATO
Eu sou do mato
Onde cresce a Timbaúva
Onde o Leão-baio não tem juba
E o coice, pra mim, é afago
A lua alumiando o pago
De quando em vez, um vaga-lume
Do campo, sinto o perfume
Da hortelã e da maçanilha
E a coruja, na sua vigília
No tronco, seu posto assume
De onde eu venho
Assobia o Minuano
Das botas, só uso o cano
Os pés esparramados no chão
Meu pala é meu galpão
Meu mate é meu parceiro
Meu cusco meu companheiro
A querência é meu mundo
Do corredor à invernada do fundo
Me sinto livre por inteiro
Nos dias de chuva escrevo
No trançar do couro cru
Meu linguajar de xiru
No meu alfabeto campeiro
Sou peão e sou guasqueiro
Aquilo que tenho venero
Vou atrás e não espero
Que as coisas me caiam do céu
Sou abelha fazendo mel
Sou o grito do Quero-quero
Minha alma vive no campo
Rondando nas noites de lua
Salgando a carne crua
Preparando um charque especial
Nosso nobre ritual
Raízes de preservação
Consciência e conservação
De nossa maior riqueza
Nossa mãe natureza
Debruçada por este chão.
Leandro da Silva Melo
Eu sou do mato
Onde cresce a Timbaúva
Onde o Leão-baio não tem juba
E o coice, pra mim, é afago
A lua alumiando o pago
De quando em vez, um vaga-lume
Do campo, sinto o perfume
Da hortelã e da maçanilha
E a coruja, na sua vigília
No tronco, seu posto assume
De onde eu venho
Assobia o Minuano
Das botas, só uso o cano
Os pés esparramados no chão
Meu pala é meu galpão
Meu mate é meu parceiro
Meu cusco meu companheiro
A querência é meu mundo
Do corredor à invernada do fundo
Me sinto livre por inteiro
Nos dias de chuva escrevo
No trançar do couro cru
Meu linguajar de xiru
No meu alfabeto campeiro
Sou peão e sou guasqueiro
Aquilo que tenho venero
Vou atrás e não espero
Que as coisas me caiam do céu
Sou abelha fazendo mel
Sou o grito do Quero-quero
Minha alma vive no campo
Rondando nas noites de lua
Salgando a carne crua
Preparando um charque especial
Nosso nobre ritual
Raízes de preservação
Consciência e conservação
De nossa maior riqueza
Nossa mãe natureza
Debruçada por este chão.
Leandro da Silva Melo
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Vinte de Setembro
VINTE DE SETEMBRO
Mas bah!
Foram quarenta anos a fio
Sentindo na pele o arrepio
No peito, o coração apertado
Trazendo nos olhos molhados
A emoção, mal e mal contida
Até então, em toda minha vida
Nunca passei (isso eu me lembro)
Fora do pago num Vinte de Setembro
Pra nós, gaúchos, a data mais querida
Depois de quatro décadas
Tão longe estou do meu pago
E sempre me restou, como um afago
O retorno nesta data de glória
Pra reviver, muito mais que na memória
O sentimento da tradição gaúcha
Amigos, churrasco, adaga e garrucha
Bailes, cachaça, violão e gaita
Acordes que rebrotam dos dedos do taita
Nos tapam de alegria como um jorro de ducha
Mas bah! Desta vez estou de fora
Não pude voltar à querência
Por caprichos de uma existência
Que teima em ser redomona
Mas que não vai me atirar à lona
Pois de onde vim, aprendi
Mais vale aquilo que eu vivi
E todas as coisas que eu fiz
Pois só assim me tornei feliz
E do que não pude fazer, é que me arrependi
Pois hoje é Vinte de Setembro
Data abagualada por demais
Lembrar-nos sempre vais
Da fibra do povo gaúcho
Da simplicidade que pra nós é luxo
Da convivência na roda de mate
Do cusco que num canto late
Dos amigos, conquistas eternas
Pessoas leais e fraternas
Eternizadas nos versos do vate
Senti saudade do Rio Grande
De cruzar por sobre o Mampituba
Enxergar a bandeira verde, amarela e rubra
Sentir o aconchego de “minha casa”
Pois mesmo depois que se cria asa
E se sai por aí, em vôos distantes
Sempre lembramos de como foi antes
E por mais que finquemos morada lá longe
Viajamos em pensamento, assim como os monges
E voltamos pra casa em ventos errantes
Cruzar caminhos conhecidos
Lembrar episódios passados
E que os sonhos realizados
Foram sonhados nessa querência
E pela mescla da sua existência
Me formou assim tão guerreiro
Pra lutar pelos outros primeiro
Amordaçando, de quando em vez, o egoísmo
Aflorando, de repente, um xucrismo
De quem tem um sangue campeiro
Mas neste Vinte de Setembro
Eu não voltei pra minha terra
Eu sei que meu peito berra
Sentindo falta de lá
Mas neste ano, fico por cá
Porém, não é definitivo
E pro ano que vem tenho mais motivo
Pra visitar minha querência
Pois não terei muita paciência
E estarei mais emotivo
Portanto peço aos amigos
Que o respeito ao Rio Grande
Que pelo país se expande
Seja exaltado nesse dia
Que só ao lembrar arrepia
Que a cento e setenta e seis invernos
Iniciava, dos conflitos internos
Aquele que mais nos orgulha
E ainda hoje mantemos a fagulha
Que transformou-nos em gaúchos eternos.
Leandro da Silva Melo
Mas bah!
Foram quarenta anos a fio
Sentindo na pele o arrepio
No peito, o coração apertado
Trazendo nos olhos molhados
A emoção, mal e mal contida
Até então, em toda minha vida
Nunca passei (isso eu me lembro)
Fora do pago num Vinte de Setembro
Pra nós, gaúchos, a data mais querida
Depois de quatro décadas
Tão longe estou do meu pago
E sempre me restou, como um afago
O retorno nesta data de glória
Pra reviver, muito mais que na memória
O sentimento da tradição gaúcha
Amigos, churrasco, adaga e garrucha
Bailes, cachaça, violão e gaita
Acordes que rebrotam dos dedos do taita
Nos tapam de alegria como um jorro de ducha
Mas bah! Desta vez estou de fora
Não pude voltar à querência
Por caprichos de uma existência
Que teima em ser redomona
Mas que não vai me atirar à lona
Pois de onde vim, aprendi
Mais vale aquilo que eu vivi
E todas as coisas que eu fiz
Pois só assim me tornei feliz
E do que não pude fazer, é que me arrependi
Pois hoje é Vinte de Setembro
Data abagualada por demais
Lembrar-nos sempre vais
Da fibra do povo gaúcho
Da simplicidade que pra nós é luxo
Da convivência na roda de mate
Do cusco que num canto late
Dos amigos, conquistas eternas
Pessoas leais e fraternas
Eternizadas nos versos do vate
Senti saudade do Rio Grande
De cruzar por sobre o Mampituba
Enxergar a bandeira verde, amarela e rubra
Sentir o aconchego de “minha casa”
Pois mesmo depois que se cria asa
E se sai por aí, em vôos distantes
Sempre lembramos de como foi antes
E por mais que finquemos morada lá longe
Viajamos em pensamento, assim como os monges
E voltamos pra casa em ventos errantes
Cruzar caminhos conhecidos
Lembrar episódios passados
E que os sonhos realizados
Foram sonhados nessa querência
E pela mescla da sua existência
Me formou assim tão guerreiro
Pra lutar pelos outros primeiro
Amordaçando, de quando em vez, o egoísmo
Aflorando, de repente, um xucrismo
De quem tem um sangue campeiro
Mas neste Vinte de Setembro
Eu não voltei pra minha terra
Eu sei que meu peito berra
Sentindo falta de lá
Mas neste ano, fico por cá
Porém, não é definitivo
E pro ano que vem tenho mais motivo
Pra visitar minha querência
Pois não terei muita paciência
E estarei mais emotivo
Portanto peço aos amigos
Que o respeito ao Rio Grande
Que pelo país se expande
Seja exaltado nesse dia
Que só ao lembrar arrepia
Que a cento e setenta e seis invernos
Iniciava, dos conflitos internos
Aquele que mais nos orgulha
E ainda hoje mantemos a fagulha
Que transformou-nos em gaúchos eternos.
Leandro da Silva Melo
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
De olho na tropa
DE OLHO NA TROPA
A cada mugido do gado
Renasce o Rio Grande no campo
No esbugalhar dos olhos, o espanto
De quem vem tocado na tropa
Ao lado, o campeiro galopa
Conduzindo o rebanho no grito
Provando que mais do que mito
O gaúcho é um centauro de fato
Carregando sua tropa com tato
Tocando a vida a despacito
Não há quem esqueça a imagem
De uma tropa num corredor
A beleza e o esplendor
Do bater de cascos na terra
Do terneiro que junto à mãe, berra
Do comboio que se empurra com o peito
Troteando de qualquer jeito
Em direção a um destino qualquer
Seja o caminho que vier
Tanto faz, largo ou estreito
O caminho à frente se espicha
Tal qual o fio de baba que escorre
Dos beiços do gado que corre
Deixando pra trás a poeira
Enquanto uma ou outra terneira
Emparelha com a mãe, assustada
Pelos cuscos já vem acossada
A pouco se perdeu lá atrás
E por sorte, assim no más
Não se cortou na cerca afiada
É por conhecer de tropeada
Que no corredor se usa fio liso
Mas, às vezes, alguém, sem aviso
Coloca um arame farpado
E isso, pra quem toca o gado
Pode ser prejuízo ou perigo
Porque um enrosco num arame, lhes digo
É uma volteada bem braba e bem feia
Vai cavalo e o índio apeia
Podendo se quebrar, o amigo
Sem contar o corte no bicho
Se o destino é o matadouro
Um talho fundo e o couro
É refugado no curtume
E mesmo que serventia se arrume
Não vai valer muitos pilas
E recortado, vendido nas vilas
Pra fazer capacho ou banqueta
Virando coisa sotreta
Que compram, fazendo fila
Por isso que a tropa de gado
Tem que ser tocada a capricho
O cuidado com cada bicho
Como se fosse um irmão pequeno
Um vai adiante, no terreno
Buscando o melhor caminho
Os outros cercando, devagarinho
Cuidando pra não estourar
Porque se a tropa descambar
Tu podes chegar sozinho
É por essas coisas da lida
Que a escolha do capataz
Recai em quem é capaz
De tratar o gado com amor
Pois, atrás do fiador
Envereda por vez o ponteiro
Puxando o sinuelo primeiro
E os que escapam da peonada
São repostos na paletada
E assim segue o tropeiro
Às vezes a jornada é mais longa
Vai direto pro matadouro
E o mugido do gado é um agouro
Ecoando na pampa sulina
Avisando pros demais sua sina
Outras vezes é só troca de pasto
Nesse nosso Rio Grande vasto
Mudando o gado de invernada
Lida que não troco por nada
Pois isso é vida, o resto é tempo gasto.
Leandro da Silva Melo
A cada mugido do gado
Renasce o Rio Grande no campo
No esbugalhar dos olhos, o espanto
De quem vem tocado na tropa
Ao lado, o campeiro galopa
Conduzindo o rebanho no grito
Provando que mais do que mito
O gaúcho é um centauro de fato
Carregando sua tropa com tato
Tocando a vida a despacito
Não há quem esqueça a imagem
De uma tropa num corredor
A beleza e o esplendor
Do bater de cascos na terra
Do terneiro que junto à mãe, berra
Do comboio que se empurra com o peito
Troteando de qualquer jeito
Em direção a um destino qualquer
Seja o caminho que vier
Tanto faz, largo ou estreito
O caminho à frente se espicha
Tal qual o fio de baba que escorre
Dos beiços do gado que corre
Deixando pra trás a poeira
Enquanto uma ou outra terneira
Emparelha com a mãe, assustada
Pelos cuscos já vem acossada
A pouco se perdeu lá atrás
E por sorte, assim no más
Não se cortou na cerca afiada
É por conhecer de tropeada
Que no corredor se usa fio liso
Mas, às vezes, alguém, sem aviso
Coloca um arame farpado
E isso, pra quem toca o gado
Pode ser prejuízo ou perigo
Porque um enrosco num arame, lhes digo
É uma volteada bem braba e bem feia
Vai cavalo e o índio apeia
Podendo se quebrar, o amigo
Sem contar o corte no bicho
Se o destino é o matadouro
Um talho fundo e o couro
É refugado no curtume
E mesmo que serventia se arrume
Não vai valer muitos pilas
E recortado, vendido nas vilas
Pra fazer capacho ou banqueta
Virando coisa sotreta
Que compram, fazendo fila
Por isso que a tropa de gado
Tem que ser tocada a capricho
O cuidado com cada bicho
Como se fosse um irmão pequeno
Um vai adiante, no terreno
Buscando o melhor caminho
Os outros cercando, devagarinho
Cuidando pra não estourar
Porque se a tropa descambar
Tu podes chegar sozinho
É por essas coisas da lida
Que a escolha do capataz
Recai em quem é capaz
De tratar o gado com amor
Pois, atrás do fiador
Envereda por vez o ponteiro
Puxando o sinuelo primeiro
E os que escapam da peonada
São repostos na paletada
E assim segue o tropeiro
Às vezes a jornada é mais longa
Vai direto pro matadouro
E o mugido do gado é um agouro
Ecoando na pampa sulina
Avisando pros demais sua sina
Outras vezes é só troca de pasto
Nesse nosso Rio Grande vasto
Mudando o gado de invernada
Lida que não troco por nada
Pois isso é vida, o resto é tempo gasto.
Leandro da Silva Melo
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Tempo feio
TEMPO FEIO
Bastou entrar setembro
E o tempo já foi mudando
O sol forte e o céu limpando
Prenunciavam a Primavera
Mudavam a cara tapera
De um inverno encardido
Um agosto descolorido
De muita chuva e umidade
Que não vai deixar saudade
Nem precisava ter existido
Fazia tempo que o inverno
Não se mostrava assim tão nojento
De mau-humor e lamuriento
Parecendo querer marcar
Nas almas o seu passar
Esquecendo que é itinerante
E que as estações que vem por diante
Vão levá-lo ao esquecimento
E a tristeza e o sofrimento
Serão sentimentos distantes
Pra que tanta água em pouco tempo?
Pra que tanta fúria sobre este povo?
Quisera começar de novo
De uma maneira mais branda
Mostrando que é tu que mandas
Mas com categoria
De uma forma sadia
Uma chuva, um friozinho, até uma neve
Mas de uma forma breve
Era só o que a gente queria
Já não tens uma fama tão boa
Muitos nem gostam de ti
E na oportunidade de te redimir
Que te é dada a cada ano
Insistes no modo insano
De descambar sem limites
Deixando a todos tristes
Pelo teu modo de agir
Que sem pensar nem sentir
No erro ainda persistes
Mas não te abichorna, tempo véio
Terás logo ali outra chance
E, se lembrar, assim de relance
Vai ver nos tempos passados
A importância dos teus legados
De quando soprava o Minuano
Bendito vento aragano
Que decidiu muita batalha
Fazendo do poncho, mortalha
Dos que lutavam com pouco pano
Mas hoje, inverno bagual
Já não trazes o vento de antes
O Minuano que vinha dos Andes
Se desvia pelos caminhos
E os ventos, outrora sozinhos
Hoje trazem nuvens carregadas
Que se libertam, debruçadas
Por sobre os estados do sul
Escondendo, por dias, o azul
do céu, onde estão penduradas
E é este mesmo céu que agora vejo
Num azul já visto a milênios
Servindo pra nós como prêmio
Por mais um inverno que acaba
Lá se vai uma estação braba
Vem chegando o tempo de flores
Rebrotando do chão os amores
Que sentimos por nossa terra
E que nenhum inverno encerra
Por mais que nos traga dores.
Leandro da Silva Melo
Bastou entrar setembro
E o tempo já foi mudando
O sol forte e o céu limpando
Prenunciavam a Primavera
Mudavam a cara tapera
De um inverno encardido
Um agosto descolorido
De muita chuva e umidade
Que não vai deixar saudade
Nem precisava ter existido
Fazia tempo que o inverno
Não se mostrava assim tão nojento
De mau-humor e lamuriento
Parecendo querer marcar
Nas almas o seu passar
Esquecendo que é itinerante
E que as estações que vem por diante
Vão levá-lo ao esquecimento
E a tristeza e o sofrimento
Serão sentimentos distantes
Pra que tanta água em pouco tempo?
Pra que tanta fúria sobre este povo?
Quisera começar de novo
De uma maneira mais branda
Mostrando que é tu que mandas
Mas com categoria
De uma forma sadia
Uma chuva, um friozinho, até uma neve
Mas de uma forma breve
Era só o que a gente queria
Já não tens uma fama tão boa
Muitos nem gostam de ti
E na oportunidade de te redimir
Que te é dada a cada ano
Insistes no modo insano
De descambar sem limites
Deixando a todos tristes
Pelo teu modo de agir
Que sem pensar nem sentir
No erro ainda persistes
Mas não te abichorna, tempo véio
Terás logo ali outra chance
E, se lembrar, assim de relance
Vai ver nos tempos passados
A importância dos teus legados
De quando soprava o Minuano
Bendito vento aragano
Que decidiu muita batalha
Fazendo do poncho, mortalha
Dos que lutavam com pouco pano
Mas hoje, inverno bagual
Já não trazes o vento de antes
O Minuano que vinha dos Andes
Se desvia pelos caminhos
E os ventos, outrora sozinhos
Hoje trazem nuvens carregadas
Que se libertam, debruçadas
Por sobre os estados do sul
Escondendo, por dias, o azul
do céu, onde estão penduradas
E é este mesmo céu que agora vejo
Num azul já visto a milênios
Servindo pra nós como prêmio
Por mais um inverno que acaba
Lá se vai uma estação braba
Vem chegando o tempo de flores
Rebrotando do chão os amores
Que sentimos por nossa terra
E que nenhum inverno encerra
Por mais que nos traga dores.
Leandro da Silva Melo
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Rastros de prata
RASTROS DE PRATA
Lua linda e querendona
Ilumina rancho e morada
Lá no céu dependurada
Vigiando campo e potreiro
Traz nas sombras dos terreiros
Fantasmas de minha ilusão
Ao ofuscar do teu clarão
Por nuvens despretensiosas
Que se tornam vaidosas
Ao se verem lá no chão
Mas quando o céu está limpo
E a lua está bem cheia
O índio velho boleia
Pensamentos pro horizonte
Mirando acima dos montes
O belo farol que ilumina
E emoldura a nuance das chinas
Debruçadas no parapeito
Enfeitiçadas com esse seu jeito
De doce e meiga menina
É quando tu vestes prata
Que a querência fica mais linda
E tu mais bonita ainda
Por entre galhos e espinhos
Vai clareando os caminhos
Refletida em águas calmas
Acalmando nossas almas
Ao bombear tua beleza
Esquecemos as tristezas
Nossos medos, nossos traumas
Nos tempos de guri no campo
Sempre que era lua cheia
Já diziam: Não te fresqueia
Que é noite de lobisomem
Hoje cresci e tornei-me homem
Que não tem medo de bruxaria
Seja de noite ou de dia
Campeio até o horizonte
Subo e desço montes
Até onde a lua alumia
Sigo teus rastros de prata
No corredor de chão batido
Escuto das esporas o tinido
E o bate cascos do meu cavalo
Na mala de garupa um regalo
Para adornar minha prenda
Pois quando chegar na fazenda
Sei que vai estar me esperando
Olhando a lua, mateando
Enfeitando o vestido com renda
E assim, nestas noites claras
Iluminadas quando tu brilhas
Vou seguindo na vigília
Cuidando do que é meu
Pois se o Patrão Velho me deu
Prenda, cusco e querência
Porquê querer outra vivência
Distante de tudo isso
Se aqui ainda tem o feitiço
De amores, luares e decência.
Leandro da Silva Melo
Lua linda e querendona
Ilumina rancho e morada
Lá no céu dependurada
Vigiando campo e potreiro
Traz nas sombras dos terreiros
Fantasmas de minha ilusão
Ao ofuscar do teu clarão
Por nuvens despretensiosas
Que se tornam vaidosas
Ao se verem lá no chão
Mas quando o céu está limpo
E a lua está bem cheia
O índio velho boleia
Pensamentos pro horizonte
Mirando acima dos montes
O belo farol que ilumina
E emoldura a nuance das chinas
Debruçadas no parapeito
Enfeitiçadas com esse seu jeito
De doce e meiga menina
É quando tu vestes prata
Que a querência fica mais linda
E tu mais bonita ainda
Por entre galhos e espinhos
Vai clareando os caminhos
Refletida em águas calmas
Acalmando nossas almas
Ao bombear tua beleza
Esquecemos as tristezas
Nossos medos, nossos traumas
Nos tempos de guri no campo
Sempre que era lua cheia
Já diziam: Não te fresqueia
Que é noite de lobisomem
Hoje cresci e tornei-me homem
Que não tem medo de bruxaria
Seja de noite ou de dia
Campeio até o horizonte
Subo e desço montes
Até onde a lua alumia
Sigo teus rastros de prata
No corredor de chão batido
Escuto das esporas o tinido
E o bate cascos do meu cavalo
Na mala de garupa um regalo
Para adornar minha prenda
Pois quando chegar na fazenda
Sei que vai estar me esperando
Olhando a lua, mateando
Enfeitando o vestido com renda
E assim, nestas noites claras
Iluminadas quando tu brilhas
Vou seguindo na vigília
Cuidando do que é meu
Pois se o Patrão Velho me deu
Prenda, cusco e querência
Porquê querer outra vivência
Distante de tudo isso
Se aqui ainda tem o feitiço
De amores, luares e decência.
Leandro da Silva Melo
domingo, 9 de setembro de 2012
Mais fundo que o talho
MAIS FUNDO QUE O TALHO
Tapado de judiaria
Uma dor que vem lá de dentro
Muito além do ferimento
Muito mais fundo que o talho
Como o estalar de um galho
Zunindo lá dentro da carcaça
Uma dor que não rechaça
A lembrança mais insistente
Do corte ainda latente
Do caçador que virou caça
Assim pensa o bagual
A pouco florão de tropa
Agora, a lo léo, galopa
Buscando um tempo passado
Escorado na aramado
Dos corredores do pensamento
Aflito, por um momento
Como vai ser daqui por diante
Nada será como antes
Sem emoção, sem sentimento
O tempo passa e não volta
Só temos o tempo de agora
A vida não aceita escora
Nem se trava com ferrolho
Aquilo que eu planto, colho
Se a semente for ruim
O que irá germinar, no fim
É aquilo que eu não queria
O que é bom se faz dia-a-dia
Espero pros outros o que quero pra mim
Mas afinal de contas
O que tá feito, tá feito
Já não tem outro jeito
A não ser viver com isso
No ontem, eu era petiço
Depois ponteiro de canchas retas
Por fim, bagual de cumprir metas
Agora, depois de um talho
Me deixaram no orvalho
Nas noites frias e quietas
Eu sei que bicho não tem direitos
Cumpre o que lhe é mandado
Mas pior que um soldado
É peça perdida na guerra
Que mesmo depois que encerra
Ninguém volta pra buscar
Querem é descartar
Como quem joga papel no lixo
Mas saibam que todo bicho
Gostaria de um dia voltar
E agora, meu parceiro
Te pergunto: O que foi que te fiz?
Pra me deixar infeliz
Em um segundo, pra todo e sempre
Nunca mais haverá semente
Numa dor que tonteia e dopa
No curativo, o sangue que ensopa
É o mesmo que correu em minhas veias
Quando te salvei de tantas peleias
Ponteando por entre a tropa.
Leandro da Silva Melo
Tapado de judiaria
Uma dor que vem lá de dentro
Muito além do ferimento
Muito mais fundo que o talho
Como o estalar de um galho
Zunindo lá dentro da carcaça
Uma dor que não rechaça
A lembrança mais insistente
Do corte ainda latente
Do caçador que virou caça
Assim pensa o bagual
A pouco florão de tropa
Agora, a lo léo, galopa
Buscando um tempo passado
Escorado na aramado
Dos corredores do pensamento
Aflito, por um momento
Como vai ser daqui por diante
Nada será como antes
Sem emoção, sem sentimento
O tempo passa e não volta
Só temos o tempo de agora
A vida não aceita escora
Nem se trava com ferrolho
Aquilo que eu planto, colho
Se a semente for ruim
O que irá germinar, no fim
É aquilo que eu não queria
O que é bom se faz dia-a-dia
Espero pros outros o que quero pra mim
Mas afinal de contas
O que tá feito, tá feito
Já não tem outro jeito
A não ser viver com isso
No ontem, eu era petiço
Depois ponteiro de canchas retas
Por fim, bagual de cumprir metas
Agora, depois de um talho
Me deixaram no orvalho
Nas noites frias e quietas
Eu sei que bicho não tem direitos
Cumpre o que lhe é mandado
Mas pior que um soldado
É peça perdida na guerra
Que mesmo depois que encerra
Ninguém volta pra buscar
Querem é descartar
Como quem joga papel no lixo
Mas saibam que todo bicho
Gostaria de um dia voltar
E agora, meu parceiro
Te pergunto: O que foi que te fiz?
Pra me deixar infeliz
Em um segundo, pra todo e sempre
Nunca mais haverá semente
Numa dor que tonteia e dopa
No curativo, o sangue que ensopa
É o mesmo que correu em minhas veias
Quando te salvei de tantas peleias
Ponteando por entre a tropa.
Leandro da Silva Melo
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