quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Temporais

TEMPORAIS

Senti cheiro de terra
No vento, essência pampeana
Um adoçar de lechiguana
Misturado com alecrim
No ar, cheirando a jasmim
O perfume da maçanilha
Pisoteada pela tropilha
Espantada com o vendaval
Lá vem a chuva, afinal
Lavando marcas na trilha

Olhando assim o aguaceiro
De longe, parece um véu
Que se esparrama do céu
E se encontra com o capim
Fazendo surgir assim
Pequenas vertentes d'água
Que no horizonte deságua
Formando poças de luz
Que a claridade reluz
Como a alvivez da anágua

Como é lindo olhar as folhas
A pouco tapadas de poeira
No gotejar da cumeeira
Tirando o pó que lhe cobre
No pingar da água nobre
De um chuvisqueiro guasqueado
Que se derrama trançado
Emaranhado e corrediço
Deixando alagadiço
O chão antes trincado

No terreiro, até a pouco
Haviam marcas no chão
Deixadas de antemão
Pelo sarandear da guanxuma
Agora, corre uma espuma
Mesclada e consistente
Formada pela vertente
De água que se criou
E por caminhos se esquivou
Lavando a alma da gente

O formigueiro que ali estava
Com rastros mui percorridos
Formando carreiros batidos
Pelo trilhar da saúva
Envolvido pela chuva
E a imensidão do aguaceiro
Em tumba se faz ligeiro
No afogar de mil vidas
Fechando caminhos, saídas
Transbordando por inteiro

E o cupim, com brotes secos
Em esponja se transforma
Bebendo da água morna
Que escorre do arvoredo
Que alvoroçado de medo
Se adelgaça e se esparrama
Num balancear que reclama
Dos estrondos e tinidos
Dos clarões e dos rugidos
Dos raios formando chamas

E o céu, pintado de noite
Sem estrelas a piscar
Se rasga num clarear
De um relâmpago tropeiro
Numa cor rubro-braseiro
Que ilumina o capinzal
Parecendo crinas de bagual
Alçadas de contra o vento
Num vai-e-vem pacholento
Cortejando o temporal

E assim se foi tarde à fora
Entrando pela noite à dentro
Um temporal resmunguento
Lavando coxilhas e cerros
Trazendo em meus pesuelos
Imagens a muito perdidas
Passagens outrora vividas
Das brincadeiras de criança
Dos idos de nossa infância
Brincando nas águas da vida.


Leandro da Silva Melo

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