sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Meio xucro


MEIO XUCRO


Saí da grota
Num passo largo de conquista
Campo a perder de vista
Macega de fazer tufo
O Pingo, um respira e bufo
Espumando na perna do freio
Me fui, teatino, sem receio
De encarar a vida de frente
E se até um raio cair de repente
Eu prossigo, atorado ao meio

Quando tô assim, decidido
Não tem quem me faça parar
Não tem essa de escutar
Conselhos e mau agouro
Pois aprendi com o sorro
A me esquivar pela sombra
E se cair um aguaceiro, uma tromba
Sigo, seguindo a maré
E seja como o patrão velho quiser
Pois nada no mundo me assombra

Tapeei o chapéu na testa
Como quem bate em mutuca
De perto ninguém me cutuca
De longe ninguém se atravessa
Pois se pedir o mango endereça
No meio do chifre do qüera
Que esparrama igual quirera
Procurando por onde sair
Porque sabe que o que está por vir
É pior que enfrentar uma fera

Sou calmo, tranqüilo e paciente
A paz ressonando no espaço
Mas se me tirar pra palhaço
O tempo logo se enfeia
E pra começar a peleia
Por muito pouco me custa
E dá-lhe pau já me gusta
No velho ritual pampeano
De fio, de plancha e de cano
Tem índio que só no olhar se assusta

Não tenho maldade no sangue
Até gosto da companheirada
Mas tem gente endiabrada
Que parece que nasceu pra incomodar
Esse tem que apanhar
Mesmo sabendo que não vai dar jeito
Mas batendo com o esquerdo e o direito
A alma fica lavada
E o desgraçado, com as fuça inchada
Vai te olhar com mais respeito.


Leandro da Silva Melo






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