PODARAM OS PINHOS
Podaram os pinhos
Tiraram folhas e galhos
E as pinhas que eram chocalhos
Acabaram pelo chão
Bem junto ao moirão
E à cerca de ferro frio
Onde só um bicho esguio
Pode passar por sua grade
E ficar bem à vontade
Ao sol outrora sombrio
Quando se podam pinheiros
Não se lhe tiram só pedaços
Pois a cada puaço
A cada golpe de facão
Lhes sangram o coração
E lhes ferem a imponência
Desrespeitam a vivência
Daqueles que ali se calam
Que vêem e nada falam
Emoldurando a querência
A paisagem então mudou
Do verde que ali reinava
E que a vista sempre buscava
Sobraram árvores topetudas
Esguias, magrelas e pontudas
E dos bichos que ali eu vi
Somente um casal de Bem-te-vi
Eu noto que se acolhera
Na aflição de quimera
De voltar a morar ali
Agora o sol transcende
Atravessa por entre os ramos
Permite que então possamos
Enxergar por mais além
E até avistar se alguém
Também admira os pinhos
Ou então procura ninhos
Por entre os galhos esguios
Que deixaram mais frios
O aconchegar de passarinhos
E quando bate o vento
Não existe mais um bailado
Nem um dançar moderado
Que se via quando vestidos
Hoje, das folhas despidos
Existe um balançar
No máximo, um retoçar
Mal e mal cadenciado
E por demais desencontrado
Que dá dó só de olhar
Que feios ficaram os pinhos
Podados e judiados
Esmilinguidos e estropiados
Disformes e sem essência
Mas com firme resistência
Sabem que são potreiros
Cortados ou inteiros
Usados por tropilhas aladas
Que ao alçar das madrugadas
Declamam poemas campeiros.
Leandro da Silva Melo
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