QUANDO A NOITE SE FAZ DONA
Cai a noite sobre o campo
Um véu de sombra aveludado
Que desliza desfraldado
Como um manto enegrecido
Num anseio desmedido
Tapando campo e capões
E nem o espichar dos moirões
Na tentativa insana de fuga
Escapa da escuridão que suga
Do céu, os últimos clarões
Noite seca, poucas nuvens
O frio aguardando na espreita
A geada que logo se deita
E embranquece o capinzal
Enfeitando de natal
Os campos a pouco floridos
E que agora adormecidos
Emudecem no silêncio noturno
E acordarão no outro turno
Com cantares e com mugidos
Restam sombras e nuances
Em tons variados de negro
Corujas e morcegos
Se aventuram pelos campos
Mariposas e pirilampos
Tracejando acrobacias
Ignorando as noites frias
Seguindo o seu instinto
Como voar num labirinto
Sem ter setas ou sem ter guias
As angústias do poente
Se acalmam na madrugada fria
E pelo clarear do dia
Se transformam em horizontes
Bebendo direto das fontes
No gotejar do folharedo
Na cerração que nos traz medo
Lembrando almas e bruxas
Ou a fumaça das garruchas
Das peleias no chinaredo
Quando a noite se faz dona
Não tem mais o que fazer
Um pedaço de galpão e um trago pra beber
E a alma esquece da lida
Te traz de volta pra vida
Te renova os pensamentos
Te faz esquecer os lamentos
Em lampejos de alegria
Pra quando clarear o dia
Se eternizem esses momentos.
Leandro da Silva Melo
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