sexta-feira, 12 de abril de 2013

Do pealo ao corcoveio

DO PEALO AO CORCOVEIO

Não sei se falo direto
Ou se uso de entrelinha
Mas me bateu a passarinha
Estragando a comida do cocho
Fiquei que nem touro mocho
Empurrando a cancela com a testa
Que o improviso, às vezes, é o que resta
Pro animal acuado no brete
De peito e de pata se mete
Fazendo porta do que era só fresta

E dali ganhei o mato num upa
Sentindo a ardência do talho
No estalar de folha e de galho
Um silêncio que ensurdece e enoja
De lembrar que, pelas costas, a corja
Decidiu me eliminar num puaço
Sem ao menos me propiciar um vistaço
Que com certeza lhes poriam respeito
E decidiram, de fácil, o jeito
Na surdina, pelas costas, no baço

Mas ah, tempo velho bagual
O mundo dá volta e não pára
Senti a maldade de cara
No cordeiro, o ranço do lobo
E pra mim, que nunca fui bobo
Não chegou a me fazer surpresa
Pois a incompetência e a fraqueza
Caminhavam de par há algum tempo
E pra tona vieram neste momento
Sem cerimônia, nem sutileza

Não vou dizer que não dói
Mas ao mesmo tempo me amarga
Saber que carreguei tanta carga
Pra aqueles mesmos se darem bem
E hoje, o que pra mim vem
É um pealo e uma faca no lombo
Mas pro índio que já levou tombo
E levantou sacudindo a poeira
O que esperar dessa gente rampeira?
Só o que tem na cloaca do pombo

E o tempo é a melhor resposta
Não saí, um segundo da linha
A melhor resposta é a minha
E vai ser dada no tempo certo
E os amigos que estiverem por perto
Vão ver o tamanho do estouro
Não é à toa que, de signo, sou touro
Tenho os pés bem firmes no chão
Mas, à frente, fixo sempre a visão
Pois na vida já não sou mais calouro.


Leandro da Silva Melo

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