sexta-feira, 26 de abril de 2013

Se vai ao macegão

SE VAI AO MACEGÃO

Vou lhes contar de um gaúcho
Que se bandeia por aí
Cria do Piratini
Primeira capital farroupilha
Nas suas ânsias de trilha
Se boleia já no nascente
E nas sombras se faz presente
No despedir da madrugada
E só no meio da caminhada
É que o sol alcança o vivente

Quera de muita valia
Gaudério e trabalhador
Cozinheiro e assador
Amante das cavalgadas
Onde as idéias irmanadas
Repontam no horizonte
E pra nós servem de fonte
Pro manancial da cultura
Onde a tradição mais pura
Ecoa como um reponte

Trabalhou por muito tempo
Na mais variada labuta
Mas hoje a sua conduta
É de um índio aposentado
Por isso, anda mais folgado
Do que rabicho em petiço
Sem horário, nem compromisso
Aproveitando o tempo de agora
Respeitando o que fora outrora
E nunca sendo omisso

Mas ah, meu amigo gaúcho
A idade vem atropelando
E o índio já vai mudando
Sentindo que o negócio é sério
A barriga, virando muro de cemitério
Fazendo sombra pro morto
E o quera ficando torto
Envergando e curvando a espinha
Se contorcendo que nem tainha
Descarregando no porto

E de vez em quando, na caminhada
O índio sente uma pressão
E se vai ao macegão
Descarregar uns pertences
Pois a natureza sempre vence
E pra desocupar ligeiro a trilha
Deixa o calção na virilha
Pra não encostar no fedorento
E entra mar adentro
E do resto se desvencilha

Oigalê, tchê! Índio velho!
Contador de história e causo
Agora, sou eu que pauso
A escrita de tuas andanças
Faltou falar das festanças
No Candeeiro e no Harmonia
Momentos de muita alegria
Contigo e com a patroa
Mas, que na memória ecoa
Com saudade e nostalgia.


Leandro da Silva Melo

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