SE VAI AO MACEGÃO
Vou lhes contar de um gaúcho
Que se bandeia por aí
Cria do Piratini
Primeira capital farroupilha
Nas suas ânsias de trilha
Se boleia já no nascente
E nas sombras se faz presente
No despedir da madrugada
E só no meio da caminhada
É que o sol alcança o vivente
Quera de muita valia
Gaudério e trabalhador
Cozinheiro e assador
Amante das cavalgadas
Onde as idéias irmanadas
Repontam no horizonte
E pra nós servem de fonte
Pro manancial da cultura
Onde a tradição mais pura
Ecoa como um reponte
Trabalhou por muito tempo
Na mais variada labuta
Mas hoje a sua conduta
É de um índio aposentado
Por isso, anda mais folgado
Do que rabicho em petiço
Sem horário, nem compromisso
Aproveitando o tempo de agora
Respeitando o que fora outrora
E nunca sendo omisso
Mas ah, meu amigo gaúcho
A idade vem atropelando
E o índio já vai mudando
Sentindo que o negócio é sério
A barriga, virando muro de cemitério
Fazendo sombra pro morto
E o quera ficando torto
Envergando e curvando a espinha
Se contorcendo que nem tainha
Descarregando no porto
E de vez em quando, na caminhada
O índio sente uma pressão
E se vai ao macegão
Descarregar uns pertences
Pois a natureza sempre vence
E pra desocupar ligeiro a trilha
Deixa o calção na virilha
Pra não encostar no fedorento
E entra mar adentro
E do resto se desvencilha
Oigalê, tchê! Índio velho!
Contador de história e causo
Agora, sou eu que pauso
A escrita de tuas andanças
Faltou falar das festanças
No Candeeiro e no Harmonia
Momentos de muita alegria
Contigo e com a patroa
Mas, que na memória ecoa
Com saudade e nostalgia.
Leandro da Silva Melo
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