VENTO PAMPEANO
O assobio no oitão da casa
Prenunciava o tempo feio
Um galho quebrado ao meio
Balanceava no cinamomo
E se mantinha, não sei como
Pendurado por uma lasca
Por um pedaço de casca
Que peleava de contra o vento
Num entrevero cento por cento
Numa briga que ninguém tasca
O vento num redemoinho
Levantava poeira e folha
Inflava, como uma bolha,
O lençol lá no varal
E o som do taquaral
Tamborilando de medo
Parecia o chinaredo
Numa noite de festança
Bebendo e pedindo dança
No meio do polvaredo
Um empurra que te pego
Nos galhos do arvoredo
Parece até um brinquedo
Nas mãos de um gigante
Às vezes dão um rasante
E quase encostam no chão
Mas se erguem de sopetão
Jogando folhas ao vento
E parecem, por um momento,
Como quem dá milho à criação
De dentro do rancho eu vejo
O vento açoitando a mata
Em laçaços de chibata
Que lembram um tempo sombrio
Quando muitos homens de brio
Sofreram nas mãos do feitor
Que sem clemência ou pudor
Lhes marcavam o couro a laço
Tudo em nome do paço
E da ignorância da cor
Esse vento que agora sopra
Num tempo fechado e rude
Faz marolas no açude
E varre o terreiro num upa
Leva folhas na garupa
Corcoveando de contra a porteira
Que num baque se fecha ligeira
Pra não deixar sair da querência
As lembranças e a essência
Dessa nossa lida campeira.
Leandro da Silva Melo
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