GUERREIROS
Nem sempre o sol nos aquece
Nem sempre a neblina nos cega
Mas a vida, pra quem se entrega
Na busca do seu ideal
Nos mostra, no seu manancial
O leque de opções que temos
E, às vezes, nem percebemos
Que o ato mais simplório
Pode ser o mais notório
Na visão daquele para quem o fazemos
O clarão de um novo tempo
Surge na barra do horizonte
E as sombras, por trás dos montes
Recuam e se encolhem
E o que as vistas agora colhem
São imagens de um futuro
Que, derrubados os muros
Forjará numa nova aurora
A ordem que fora, outrora,
Desestabilizada a golpes duros
Sigo a passos firmes
Escutando o bater de cascos
Herança de Bugres e Bascos
Que povoaram essa terra santa
Que até hoje me encanta
E me brinda com sua beleza
Com imponência e realeza
Nos recebe de braços abertos
Tornando os longes tão pertos
Na exuberância da natureza
E neste bater de cascos
Que agora escuto mais forte
Aclaram das sombras o porte
Da comitiva de alma jovem
São amigos que me envolvem
Numa aura de tranquilidade
Que só a verdadeira amizade
Dos puros de coração
Tem a real intenção
De te ver bem à vontade
Nunca será demais
Agradecer a estes amigos
Guerreiros que, às vezes, feridos
Pelearam, mesmo sangrando
E este sangue derramando
Mesclado com suor e poeira
Forjou, de alguma maneira
A liga de nossa conduta
Nunca fugindo da luta
E defendendo nossa bandeira.
Leandro da Silva Melo
Poesias Campeiras
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
sábado, 24 de agosto de 2013
Andanças
ANDANÇAS
Percorrendo a cidade grande
Me sinto um cusco sem dono
Nesses dias de outono
Quando o campo fica mais bonito
Me sinto ainda mais aflito
Por não estar lá para apreciar
A natureza que vem nos brindar
Com um por-do-sol multicores
E o aroma das flores
Próximas do despetalar
Em cada rua que cruzo
Em cada calçada que piso
Busco nas pessoas um sorriso
Mas é difícil de encontrar
Cada um com seu pensar
Distante da realidade
Vão enchendo a cidade
E esvaziando o coração
E um simples gesto de educação
Se torna uma raridade
É aí que eu lembro do campo
Na nossa tênue ignorância rural
Que da cidade tem uma distância abismal
Quando se trata de convivência e relação
Pois desde um simples aperto de mão
Passando por um buenas e um quebra-costela
Nenhum vivente tem preguiça na goela
Pra cumprimentar um passante
Que mesmo de casa estando distante
Assim se sente mais perto dela
Nestas minhas caminhadas
Tenho encontrado de tudo
E me acho um cara sortudo
Por poder vivenciar esses dias
São ruas, botecos, livrarias
Lugares novos e desconhecidos
Que se somam aos meus cerzidos
Alinhavando a cidade grande
E meu conhecimento se expande
Como num livro, recém lido
Mas, nos momentos de pausa
Em que posso contemplar na minúcia
E usando um pouco de astúcia
Comparo o que vejo com o campo
E encontro no horizonte o acalanto
O silêncio, contemplando a grama
As árvores, suas folhas e ramas
Detalhes, às vezes, não vistos
Pelos horários, atrasos e imprevistos
Mas que atraem a quem a natureza ama
Por isso, nestas minhas andanças
Nunca deixo de apreciar
Nos momentos em que o compromisso deixar
A beleza das coisas da vida
A natureza assim concebida
Ali, à mostra, pra toda humanidade
Mas que aqui na grande cidade
Muitos nem notam que existe
E o que é ainda mais triste
Ignoram tão bela é a simplicidade.
Leandro da Silva Melo
Percorrendo a cidade grande
Me sinto um cusco sem dono
Nesses dias de outono
Quando o campo fica mais bonito
Me sinto ainda mais aflito
Por não estar lá para apreciar
A natureza que vem nos brindar
Com um por-do-sol multicores
E o aroma das flores
Próximas do despetalar
Em cada rua que cruzo
Em cada calçada que piso
Busco nas pessoas um sorriso
Mas é difícil de encontrar
Cada um com seu pensar
Distante da realidade
Vão enchendo a cidade
E esvaziando o coração
E um simples gesto de educação
Se torna uma raridade
É aí que eu lembro do campo
Na nossa tênue ignorância rural
Que da cidade tem uma distância abismal
Quando se trata de convivência e relação
Pois desde um simples aperto de mão
Passando por um buenas e um quebra-costela
Nenhum vivente tem preguiça na goela
Pra cumprimentar um passante
Que mesmo de casa estando distante
Assim se sente mais perto dela
Nestas minhas caminhadas
Tenho encontrado de tudo
E me acho um cara sortudo
Por poder vivenciar esses dias
São ruas, botecos, livrarias
Lugares novos e desconhecidos
Que se somam aos meus cerzidos
Alinhavando a cidade grande
E meu conhecimento se expande
Como num livro, recém lido
Mas, nos momentos de pausa
Em que posso contemplar na minúcia
E usando um pouco de astúcia
Comparo o que vejo com o campo
E encontro no horizonte o acalanto
O silêncio, contemplando a grama
As árvores, suas folhas e ramas
Detalhes, às vezes, não vistos
Pelos horários, atrasos e imprevistos
Mas que atraem a quem a natureza ama
Por isso, nestas minhas andanças
Nunca deixo de apreciar
Nos momentos em que o compromisso deixar
A beleza das coisas da vida
A natureza assim concebida
Ali, à mostra, pra toda humanidade
Mas que aqui na grande cidade
Muitos nem notam que existe
E o que é ainda mais triste
Ignoram tão bela é a simplicidade.
Leandro da Silva Melo
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
Vinte anos...
VINTE ANOS...
Contive a vertente do choro
Pra não transbordar a cacimba da alma
Mantive ao máximo a calma
Respirei e baldeei o pensamento
Mas juro, que por um momento
Quase perdi a ilusão
E seria grande a decepção
De ter lutado tão bravamente
E ter sobrado somente
Cicatrizes no meu coração
Revendo hoje o passado
Me enxerguei lá no início
Aprendendo um novo ofício
Sonhando com belos dias
Transformando as utopias
De minha realidade severa
Deixando pra trás uma era
De sofrimento e incerteza
Encontrando uma luz acesa
Na escuridão de uma tapera
Quanta coisa se passou
Quanta coisa aprendi
Algumas até esqueci
Por não fazer uso constante
E agora, neste instante
Remoendo minha história
Das derrotas e das glórias
Me sinto orgulhoso de tudo
Não grito, nem fico mudo
Mas relato minhas memórias
São vinte anos de lida
Num aprendizado quase diário
Mantendo meu ideário
Fui semeando meu caminho
Mas nunca estive sozinho
Durante minha caminhada
Tive família, amigos, amada
Colegas, filho e um cusco
Que quando esqueço o que busco
Norteiam minha jornada
Ainda não terminou...
Tenho muito o que andar
Daqui pra frente, mais devagar
Pois a idade está chegando
O cansaço se acercando
Mas vou aguentar até o fim
Porque uma coisa eu tenho pra mim
Nunca desistir da luta
Direcionando a minha conduta
Mostrando ao mundo porque vim.
Leandro da Silva Melo
Contive a vertente do choro
Pra não transbordar a cacimba da alma
Mantive ao máximo a calma
Respirei e baldeei o pensamento
Mas juro, que por um momento
Quase perdi a ilusão
E seria grande a decepção
De ter lutado tão bravamente
E ter sobrado somente
Cicatrizes no meu coração
Revendo hoje o passado
Me enxerguei lá no início
Aprendendo um novo ofício
Sonhando com belos dias
Transformando as utopias
De minha realidade severa
Deixando pra trás uma era
De sofrimento e incerteza
Encontrando uma luz acesa
Na escuridão de uma tapera
Quanta coisa se passou
Quanta coisa aprendi
Algumas até esqueci
Por não fazer uso constante
E agora, neste instante
Remoendo minha história
Das derrotas e das glórias
Me sinto orgulhoso de tudo
Não grito, nem fico mudo
Mas relato minhas memórias
São vinte anos de lida
Num aprendizado quase diário
Mantendo meu ideário
Fui semeando meu caminho
Mas nunca estive sozinho
Durante minha caminhada
Tive família, amigos, amada
Colegas, filho e um cusco
Que quando esqueço o que busco
Norteiam minha jornada
Ainda não terminou...
Tenho muito o que andar
Daqui pra frente, mais devagar
Pois a idade está chegando
O cansaço se acercando
Mas vou aguentar até o fim
Porque uma coisa eu tenho pra mim
Nunca desistir da luta
Direcionando a minha conduta
Mostrando ao mundo porque vim.
Leandro da Silva Melo
De volta ao meu pago
DE VOLTA AO MEU PAGO
Enchi os olhos de campo
Da macega ao capinzal
Do Azulão ao Cardeal
Vislumbrei na beira da estrada
Muitas vezes empoeirada
Pela passagem dos demais
E fui deixando para trás
Pensamentos e problemas
Incertezas e dilemas
Na terra de meus ancestrais
Não há como descrever
A sensação de “estar em casa”
A imaginação que te dá asas
Precisa do abrigo ao chão
Como no ofuscar de um clarão
Tu vais identificando as imagens
E o que são simples passagens
Vão resgatando na mente
Maravilhas que são simplesmente
Nossas mais lindas paisagens
Viajar é terapia
Minha terra é minha recarga
E até quando a vida amarga
É do nosso chão que nos lembramos
Das alegrias que lá passamos
Como quem busca uma salvação
E é quando volto ao meu torrão
Pra recarregar minhas baterias
Que prevejo mais belos dias
Enquanto cevo meu chimarrão
Alguns amigos me dizem
_ Tua visita nos traz alegrias
E é recordando as nostalgias
Que passamos o tempo a contar
Histórias do nosso passar
Peripécias de homem-guri
Coisas que pra mim e pra ti
Tem muita importância
Pois são o que tem relevância
Na minha história, até aqui.
Leandro da Silva Melo
Enchi os olhos de campo
Da macega ao capinzal
Do Azulão ao Cardeal
Vislumbrei na beira da estrada
Muitas vezes empoeirada
Pela passagem dos demais
E fui deixando para trás
Pensamentos e problemas
Incertezas e dilemas
Na terra de meus ancestrais
Não há como descrever
A sensação de “estar em casa”
A imaginação que te dá asas
Precisa do abrigo ao chão
Como no ofuscar de um clarão
Tu vais identificando as imagens
E o que são simples passagens
Vão resgatando na mente
Maravilhas que são simplesmente
Nossas mais lindas paisagens
Viajar é terapia
Minha terra é minha recarga
E até quando a vida amarga
É do nosso chão que nos lembramos
Das alegrias que lá passamos
Como quem busca uma salvação
E é quando volto ao meu torrão
Pra recarregar minhas baterias
Que prevejo mais belos dias
Enquanto cevo meu chimarrão
Alguns amigos me dizem
_ Tua visita nos traz alegrias
E é recordando as nostalgias
Que passamos o tempo a contar
Histórias do nosso passar
Peripécias de homem-guri
Coisas que pra mim e pra ti
Tem muita importância
Pois são o que tem relevância
Na minha história, até aqui.
Leandro da Silva Melo
domingo, 14 de julho de 2013
Chuva de verão
CHUVA DE VERÃO
Batendo água, de novo...
A noite clareia com os raios
A chuva cai de balaio
E o vento sopra com força
Assusta e dá medo na moça
Que se encolhe na cozinha
Enquanto a tormenta se encaminha
Em direção ao horizonte
Turvando a água da fonte
E trovoando em ladainha
O rio transbordou, de novo...
Inundou várzea e campo
Desalojou o pirilampo
Molhou o sal da boiada
Deixou a mata encharcada
E o caminho se fez lodo
Com o gado se espremendo todo
Debaixo do velho capão
Escarvando com a pata no chão
Como que puxando um rodo
Acompanhei de perto o aguaceiro
Torcendo pra que findasse
E o pátio não inundasse
Pondo em risco o sobrado
Não sou um xiru assustado
Mas já passei por uns apertos
E entre erros e acertos
Aprendi a não facilitar
Porque a água da chuva ou do mar
Quando invade, não tem conserto
Mas a tormenta foi enfraquecendo
Virou quase um chuvisqueiro
Ao longe se via o luzeiro
Dos relâmpagos se distanciando
Os trovões se acalmando
E a vida voltando ao normal
É a natureza nos dando um sinal
De que é ela que manda no mundo
E que mesmo com o plantio mais profundo
Tudo se enverga no temporal.
Leandro da Silva Melo
Batendo água, de novo...
A noite clareia com os raios
A chuva cai de balaio
E o vento sopra com força
Assusta e dá medo na moça
Que se encolhe na cozinha
Enquanto a tormenta se encaminha
Em direção ao horizonte
Turvando a água da fonte
E trovoando em ladainha
O rio transbordou, de novo...
Inundou várzea e campo
Desalojou o pirilampo
Molhou o sal da boiada
Deixou a mata encharcada
E o caminho se fez lodo
Com o gado se espremendo todo
Debaixo do velho capão
Escarvando com a pata no chão
Como que puxando um rodo
Acompanhei de perto o aguaceiro
Torcendo pra que findasse
E o pátio não inundasse
Pondo em risco o sobrado
Não sou um xiru assustado
Mas já passei por uns apertos
E entre erros e acertos
Aprendi a não facilitar
Porque a água da chuva ou do mar
Quando invade, não tem conserto
Mas a tormenta foi enfraquecendo
Virou quase um chuvisqueiro
Ao longe se via o luzeiro
Dos relâmpagos se distanciando
Os trovões se acalmando
E a vida voltando ao normal
É a natureza nos dando um sinal
De que é ela que manda no mundo
E que mesmo com o plantio mais profundo
Tudo se enverga no temporal.
Leandro da Silva Melo
sexta-feira, 17 de maio de 2013
Mateadas
MATEADAS
Mateio por estar solito
Mateio pra matar a sede
Me recosto junto à parede
Pra dar um vistaço no campo
Na canhota, como um acalanto
Empunho a cuia morena
E, num padrão, como emblema
Eu sorvo a água esverdeada
Apreciando esta mateada
Como se escrevesse um poema
Mateio com minha prenda
Enquanto conversamos do dia
As decepções e alegrias
De uma vida atribulada
E aproveitamos a mateada
Pra serenar as nossas mentes
Desvencilhar os ambientes
Quando o dia chega ao fim
Repatriando pra ela e pra mim
As emoções que estavam ausentes
Mateio com os amigos
Numa roda de chimarrão
Onde amizade e tradição
Transformam em alegria
Esses momentos do dia
Em que conversamos de tudo
E só se fica mudo
Enquanto sorvemos o mate
Mas logo voltamos ao debate
No nosso jeitão macanudo
Mateio com os colegas
Em nosso ambiente de serviço
Pra alguns é só mais um vício
Pois não gostam de matear
Mas, diferente do fumar
Este ritual não prejudica
E torna a convivência mais rica
No simbolismo de alcançar o mate
Ameniza o clima de embate
E o calor humano intensifica
Mateio ao findar a tarde
No aconchego do meu rancho
E faço do mate um gancho
Pra pendurar meu cansaço
Da erva eu faço um laço
Pra enrodilhar meus pensamentos
Pela bomba, sorvo momentos
De sabor e de alegria
Por ter terminado mais um dia
Seguindo meus fundamentos.
Leandro da Silva Melo
Mateio por estar solito
Mateio pra matar a sede
Me recosto junto à parede
Pra dar um vistaço no campo
Na canhota, como um acalanto
Empunho a cuia morena
E, num padrão, como emblema
Eu sorvo a água esverdeada
Apreciando esta mateada
Como se escrevesse um poema
Mateio com minha prenda
Enquanto conversamos do dia
As decepções e alegrias
De uma vida atribulada
E aproveitamos a mateada
Pra serenar as nossas mentes
Desvencilhar os ambientes
Quando o dia chega ao fim
Repatriando pra ela e pra mim
As emoções que estavam ausentes
Mateio com os amigos
Numa roda de chimarrão
Onde amizade e tradição
Transformam em alegria
Esses momentos do dia
Em que conversamos de tudo
E só se fica mudo
Enquanto sorvemos o mate
Mas logo voltamos ao debate
No nosso jeitão macanudo
Mateio com os colegas
Em nosso ambiente de serviço
Pra alguns é só mais um vício
Pois não gostam de matear
Mas, diferente do fumar
Este ritual não prejudica
E torna a convivência mais rica
No simbolismo de alcançar o mate
Ameniza o clima de embate
E o calor humano intensifica
Mateio ao findar a tarde
No aconchego do meu rancho
E faço do mate um gancho
Pra pendurar meu cansaço
Da erva eu faço um laço
Pra enrodilhar meus pensamentos
Pela bomba, sorvo momentos
De sabor e de alegria
Por ter terminado mais um dia
Seguindo meus fundamentos.
Leandro da Silva Melo
sábado, 11 de maio de 2013
Outono
OUTONO
Nasce uma manhã gelada
O sol brilhando ao fundo
Vai aquecer meu mundo
Enquanto grita o Quero-quero
O outono chegou e eu espero
Dias bonitos de sol e frio
E assim como as fêmeas no cio
Se preparam pro acasalamento
Nos preparamos, neste momento
Pra um clima que muda, arredio
A madrugada se arrasta
Em direção ao nascente
Com um frio que se faz crescente
Até o sol despertar
Depois começa a amenizar
Mas ainda dura um bom tempo
Enquanto o calor e o vento
Transfiguram a paisagem
Num ritual de passagem
Em que o mundo gira mais lento
Parece que as horas não passam
Numa manhã de cerração
É como se a escuridão
Tapasse o campo com um manto
E deixasse um outro tanto
Esparramado pela grama
Formando por entre as ramas
E as teias de aranha
Figuras, das mais estranhas
Como complexos diagramas
No fogão, o café quente
E a água pro chimarrão
Aquecem primeiro a mão
De quem manuseia as vasilhas
O vapor, fazendo trilhas
Aquece toda a cozinha
E o vivente, sem ladainha
Vai sorvendo o mate e o café
Enquanto aprecia, em pé
A névoa que aos poucos definha
Só quem pisou na geada
Conhece o cheiro do frio
É uma mistura de arrepio
Com um queimor na ponta da fuça
E por mais que o índio tussa
É o ar puro que inala
E em nada ali se iguala
Ao respirar um pouco mais fundo
Sente o aroma do mundo
Enquanto o peito se cala
Olhando assim para a grama
Mesclada num branco marfim
É como que revelasse pra mim
A essência de nossa raça
Mistura de cerração e fumaça
Preenchendo no tempo a lacuna
De uma era sem maneia e reiuna
Que nos deixou de legado e herança
Manter sempre viva a esperança
Mesmo com a melena lubuna.
Leandro da Silva Melo
Nasce uma manhã gelada
O sol brilhando ao fundo
Vai aquecer meu mundo
Enquanto grita o Quero-quero
O outono chegou e eu espero
Dias bonitos de sol e frio
E assim como as fêmeas no cio
Se preparam pro acasalamento
Nos preparamos, neste momento
Pra um clima que muda, arredio
A madrugada se arrasta
Em direção ao nascente
Com um frio que se faz crescente
Até o sol despertar
Depois começa a amenizar
Mas ainda dura um bom tempo
Enquanto o calor e o vento
Transfiguram a paisagem
Num ritual de passagem
Em que o mundo gira mais lento
Parece que as horas não passam
Numa manhã de cerração
É como se a escuridão
Tapasse o campo com um manto
E deixasse um outro tanto
Esparramado pela grama
Formando por entre as ramas
E as teias de aranha
Figuras, das mais estranhas
Como complexos diagramas
No fogão, o café quente
E a água pro chimarrão
Aquecem primeiro a mão
De quem manuseia as vasilhas
O vapor, fazendo trilhas
Aquece toda a cozinha
E o vivente, sem ladainha
Vai sorvendo o mate e o café
Enquanto aprecia, em pé
A névoa que aos poucos definha
Só quem pisou na geada
Conhece o cheiro do frio
É uma mistura de arrepio
Com um queimor na ponta da fuça
E por mais que o índio tussa
É o ar puro que inala
E em nada ali se iguala
Ao respirar um pouco mais fundo
Sente o aroma do mundo
Enquanto o peito se cala
Olhando assim para a grama
Mesclada num branco marfim
É como que revelasse pra mim
A essência de nossa raça
Mistura de cerração e fumaça
Preenchendo no tempo a lacuna
De uma era sem maneia e reiuna
Que nos deixou de legado e herança
Manter sempre viva a esperança
Mesmo com a melena lubuna.
Leandro da Silva Melo
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