quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Chimarrão, seiva platina

CHIMARRÃO, SEIVA PLATINA


Ao sorver lentamente meu mate
Apreciando cada gole sorvido
O silêncio arrebatando o ouvido
O farfalhar das folhas ao vento
Dos pássaros, o cantar pacholento
Lá longe, o latido do cusco
No mirar a erva, ofusco
Mil pensamentos mau-vindos
E sirvo outro mate, sorrindo
Na esperança de encontrar o que busco

Cada cuia é um universo
Inerte e bem cuidado
Com entrada por um dos lados
Em sua gruta finita
Profundezas do mar, imita
Com seu verde escalonado
Em cima, um campo brotado
Por dentro, esmeraldas brilhando
Como que te convidando
Pra explorar o inexplorado

Um gosto de mata nativa
O cheiro de orvalho na folha
Na tua espuma, mil bolhas
Remetem a universos perdidos
Lugares, talvez inseridos
Em constelações distantes
Que só aos olhos dos amantes
São notadas na noite escura
Num rito de amor e de cura
Na magia de estrelas errantes

Permitas, então, que eu viaje
Enquanto sorvo tua seiva
Imagino, assim, cada leiva
De mata que foi mexida
Cada raiz inserida
Na terra, pampa sulina
Sugando da tua sina
Puxando pra fora tua história
Bebendo da tua glória
Heranças da terra platina

Meu chimarrão bem cevado
Com a água quente da fonte
Que tuas histórias nos conte
Com folhas, talos e raiz
Serei teu eterno aprendiz
De tudo aquilo que vistes
Das conversas que ouvistes
Nas rodas de mate no passado
E de tudo o que nos foi legado
É o mais popular que existe

Nas horas mais alegres
Ou debaixo de tempo feio
Servindo sempre de esteio
Pra acomodar o vivente
Que mesmo estando doente
Te prepara com ervas e chás
Sabendo que em ti encontrará
Pela velha medicina campeira
Remédio pra vida inteira
Que sempre em ti existirá.


Leandro da Silva Melo





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