CERNE CAMPEIRO
Venho ao tranquito
Estropiado de lonjura
Com a anca e a paleta dura
De tanto amaciar estrada
Mas não troco isso por nada
É a sina que o Patrão me deu
O xucrismo, que não morreu
Abraço com um sorriso largo
Ofereço outro mate amargo
Porque o primeiro sempre é meu
Quando me cerceiam o caminho
O brete chega mais cedo
Vou direto ao chinaredo
Dar vertente às minhas ânsias
Nessa vida de inconstâncias
O pouco é tudo que tenho
Mas sou defensor ferrenho
De tudo aquilo que é meu
E o que o Patrão velho me deu
Eu cuido e nunca desdenho
Pra quem me viu nas invernadas
Sou gado lambendo o sal
Num jeito xucro e bagual
No peitaço e no encontrão
Emborco o cocho no chão
Não tenho medo de espora
E quando é chegada a hora
Encaro tudo de frente
Eu sei o que o bicho sente
E o que é pra ser feito, eu faço agora
Meu Trinta é meu amigo
A Prateada é minha madrinha
De vez em quando desembainha
E se engraxa num churrasco gordo
Picanha e costela que com vontade mordo
...Mas agora me bateu o cansaço
No campo dei um vistaço
E preparei um chimarrão a capricho
Porque às vezes sou tipo bicho
Coiceio o vento e me desvio do laço
Me perguntaram quem eu sou
Mas pra quem conhece um pouco da história
Sabe que o gaúcho tem glória
Não pela gravata colorada
Mas pela luta obstinada
E por sua perseverança
Mantendo viva a esperança
De tudo dar certo no fim
Mas se ainda não ocorreu assim
É porque ainda tem música pra essa dança
Sou mangueira de pedra moura
Sou palanque enraizado no chão
Meu amigo é meu irmão
Sou cerne campeiro de fato
Me orgulho de todo ato
E da bravura do povo farrapo
E até hoje, quando vestido com um trapo
Me transcendo àquela época de glória
Trago no sangue a história
E o orgulho de ser gaúcho guapo.
Leandro da Silva Melo
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